sábado, 11 de setembro de 2010

Intrepretação da estela romana.

A história pode ser, em parte, reconstituída pela análise crítica dos documentos existentes, neste caso a estela romana que foi já  objecto de considerações preliminares. Há várias referências escritas sobre ela  desde o seu aparecimento, embora a informação só circule em circuito fechado (arqueólogos). Recentemente A. R. apresentou uma possível leitura epigráfica , com identificacão da estela em causa  e que transcrevemos" Primera lectura de la inscripción de la cartela derecha de esta estela bísoma de mármol, conservada en el jardín contiguo al ayuntamiento de Angueira. La cartela izquierda ha
perdido la inscripción". No lado direito, a leitura sugerida é a seguinte:

"D(is) M(anibus) / Corn[e]/li(a)e • Pi/ntonis / a n (norum) XV"

A tradução é a seguinte" Aos Deuses Manes, a Cornélia, filha de Pintão, de XV anos". O autor sugere uma" primera lectura", o que permite supor que não é ainda a versão definitiva. Apresentamos (claro, com vista à descrição final) as nossas reticências quanto à letra P, e quanto ao ano XV que poderá ter um número intermédio. Todavia, o essencial está dito. É possível que A.R. tenha tido acesso às fotos originais que poderão esclarecer melhor este assunto.
A descrição inicial de B.Afonso e tal como é registada em Hispania Epigraphyca indicava, citámos"Descripción Estela de caliza. Presenta cabecera doble con sendas rosáceas. Está dividida por un listel vertical en dos campos y a su vez cada uno de ellos está (...) ". Actualmente e a partir das fotos actuais, a custo se pode ver esses vestigíos. Todavia, há a garantia de B.A. que as descreveu, e este assunto está também resolvido. Neste aspecto, está também em conformidade com a descrição da estela como sendo do" tipo Picote". Porém, não há bela sem senão!
Afortunadamente, as férias permitiram dar algum tempo para confirmar outras suspeitas, e que quanto sei, constitui uma novidade que faz dela uma candidata a estudos mais aprofundados , em termos de equipamento e investigadores (por ex. M.A.Baçal).
A transcrição acima refere um" listel vertical... e em cada uno delhos está (...)". No que concerne aos campos epigráficos "um campo  dificilmente se lê, e o outro tem a proposta de leitura acima indicada". Com pequenas variantes, a informação é conhecida.
A informação que agora se dá está contida no campo pictórico inferior, do lado esquerdo. Juntámos a figura zoomorfica (animal) e , com reservas na parte inferior desta, uma figura antropomórfica (humana). Por outro lado na parte correspondente da direita, a figura não é tão vincada e a sua caracterização requer mais estudo.As dificuldades inerentes envolvem a textura natural da mármore, a corrosão e a manipulação destrutiva a que tem sido sujeita, entre outros.
Fig.1-Representação aproximada das figuras

Quanto à representação superior (cervídeo) não difere de outras aparecidas nas proximidades de Angueira, já no que respeita à representação antropofórmica é menos frequente. O pontilhado da Fig.1 foi indicado para seguir  os contornos respectivos. Para maio clareza e transparência da representação inferior, deve ser tomada, por ora, sob reserva já que depende de outras análises. Conclui-se, pelo tratamento da imagem original, que a pedra foi profusa e finamente trabalhada com cinsel. A ampliação da imagem revela uma textura laminada de cor azul, com motivos geométricos mais ou menos distribuidos por toda a área. O motivo circular indicado no lado direito tem surgido em pontos de Espanha, relativamente afastados de Angueira. Referimos num texto anterior a abertura do debate que inevitavelmente iria seguir-se. Dada a sua riqueza representativa , constitui uma peça única e peculiar. Anteriormente,  referimos os gládios romanos, por acaso representado numa célebre peça de Babe. As três figurações da mesma peça (?espadas) terminam em bico, e não numa base plana. Este pormenor, é mais uma das singularidades do trabalhador que a executou. No mínimo, deveria ser um artista exímio, raro e inventivo. É altamente provável que a feitura da mesma tenha sido próxima do local (Cocolha). É perfeitamente admissível que tenha sido levada da área da Cocolha para São Miguel, local onde foi encontrada. Existe um número bastante elevado de estelas romanas provenientes da Cocolha e um rol de histórias bem ou mal contadas sobre o assunto. Numa das próximas etapas, iremos tentar contá-las.

Conclusão: O nome Cornelia é, seguramente, um dos nomes mais antigos conhecidos do nosso meio. A ser correcto o nome do pai, este seria então o antepassado mais distante. Mas não é caso único. Um outro estudo foi realizado  por L.Vasconcelos (Papa dos Arqueólogos) no distante ano de 1902. Au revoir!