sábado, 24 de dezembro de 2011

Boas Festas !

Bom Natal e Ano Novo de 2012. Nesta época, um bom texto para reflexão pode ser o livro "Meditações" -compilação dos pensamentos do imperador Marco Aurélio Antonino e seguidor da filosofia estóica.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Angueira e a nova Reforma Administrativa...

Mais uma reforma administrativa!

Os tempos que correm são de mudança permanente. Para quem estiver interessado, consulte a proposta do actual governo. Este texto é uma pequena e breve introdução, não a essa proposta governamental, mas a anteriores reformas administrativas. Não se pretende analizar todas as reformas, mas apenas fazer uma pequena referência à gestão administrativa de Angueira, desde tempos antigos até ao presente, e deste modo, fundamentar  a escolha que, porventura, seja democraticamente apresentada ou rejeitar qualquer arbitrariedade de uma imposição forçada.

I - A governação de D. Dinis prestou grande importância a dois factores : povoamento do território e  defesa do reino. O tratado de Alcanices veio definir, em definitivo, as fronteiras até aí com interesses difusos do Reino de Leão. Como Angueira faz parte do território fronteiriço, constituiu local de interesse no que respeita aos dois factores mencionados: a delimitação precisa do território nacional e o enquadramento no esforço da defesa do reino, com a construção de castelos como o de Algoso. D. Dinis elevou pequenas localidades fronteiriças transmontanas a municípios, numa perspectiva de desenvolvimento do território, aglutinação e coesão  e simultaneamente da sua defesa.
  • Desde o príncipio da nacionalidade até ao reinado de D.Dinis, a administração do território e o seu povoamento foi assegurado pela concessão de forais, cartas de couto atribuídas a prelados e suas Sés, Ordens religiosas monásticas e ordens militares e doações a indivíduos. Já referimos, o castelo de Soure, doado por D.Teresa aos Templários e reconfirmado pelo Infante Afonso Henriques. D.Afonso Henriques seguiu de perto mas não totalmente a política da mãe no que respeita ao povoamento e administração, de acordo com as potencialidades naturais onde se enquadravam. D. Afonso Henriques priviligiou as cartas de couto e doações a particulares. Angueira surge num pacote generalista do Mosteiro de Moreruela, localizado próximo da actual fronteira e sob influência política global do Reino de Leão. O conceito nacionalista não era, à época, o dominante e permitiu que o mosteiro de Moreruela compre Angueira e prevê que regulamente administrativamente a sua actividade económica, povoando, distribuindo terras, desenvolvendo, estabelecendo os príncipios mínimos de justiça e cobrança de impostos [V. fuero de Angueira (1256)]. Construção de moinhos e actividade piscatória são referenciadas no foro. As represas existentes que ainda hoje cumprem a sua função de  regularização do curso do rio são obra dos primeiros moradores e construidas sobre o saber técnico do Mosteiro de Moreruela [da ordem de Cister, França]. A política de D.Sancho I (1185-1211)  inflectiu a política anterior da outorga de cartas forais a Mosteiros e Ordens Militares, voltando-se para o aforamento ( 58 doações a particulares) de terras reguengas sob dependência directa do rei e dá início a um periodo de grandes tensões com os Eclesiásticos, dando assim origem a outros tantos municipios.
  • O movimento centralizador desenvolveu-se mais ainda com D. Afonso II (1211-1223) criando 28 novos municípios e com a atribuição de 92 foros por D.Afonso III (1246-1275), cobrindo grande parte do território nacional, Algarve incluído. Este rei trouxe de França novos conceitos e ideias, introduziu uma nova moeda, estando porém, limitado pelo acordão com Afonso X de Castela (em 1253) por causa do Algarve e , internamente, debilitado pela hierarquia eclesiastica devido a bigamia.
  • Segue-se D. Dinis (1275-1325), que no seguimento de D.Afonso III, teve que impor ordem na pressão exercida pela nobreza e poderosos homens leoneses sobre a fronteira de Trás-os-Montes, onde Angueira se enquadra. Leão estendia os seus tentáculos e influência à zona fronteiriça transmontana, desrespeitando quase de modo ostensivo o poder real português sobre esta zona (Inquirições de 1258).  Angueira (freguesia a abater!) está particularmente bem documentada neste período e os conterrâneos não imaginam que  poucas povoações se podem orgulhar de semelhante história. Para sanear de vez a luta (sem sentido...) de São Martinho de Angueira, a história é semelhante com a diferença de que São Martinho de Angueira viria a depender do Mosteiro de São Martinho da Castanheda (lago de Sanábria), de onde viria a tomar o nome (São Martinho). Têm de comum o facto de serem exploradas pelo mesmo poder, pagando impostos quase aos mesmos personagens. Angueira anda associada às aldeias de Ifanes, Constantim, Palaçoulo, Águas Vivas já que D. Sancho I (em 1211), cedeu este conjunto de aldeias fronteiriças  para povoamento ao Mosteiro de Moreruela, vindo esse povoamento a realizar-se alguns anos mais tarde.  Avelanoso e Serapicos,aldeias contíguas, foram povoadas pelos frades de Alcanices (Templários)   tendo um percurso distinto.
  • Angueira tornou-se conhecida  mais tarde pelo facto do choque de influência e poder (monástico de Moreruela) e o poder régio português, com processos judiciais  e contendas frequentes, com repercussão ao mais alto nível político da época.
  • Curiosamente, o foro de Angueira estipula, com certa precisão, a sua governança: actividade judicial, económica, pagamento de impostos (pelo São Miguel,..), economia (circulação do morabitino ou moravedi) .  De salientar que os frades de Moreruela já advogavam e praticavam uma certa forma de assistência social, com contrapartidas em termos de possessões (terras ou outros bens). Durante vários séculos assim foi, até um dia em que a governança se processava com base na frase "Para cá do Marão, mandam os que cá estão", e que por vezes assumia a forma prosaica  `a maneira de Camilo Castelo Branco- ... a canalha governa-se a si própria".
  • D. Dinis viria a conceder a carta foralenga a Miranda do Douro(1286), pondo um ponto final na influência leonesa nesta zona fronteiriça. A partir daqui, Angueira começou a gravitar em torno de Miranda do Douro e com a criação do Bispado ficaria como anexa da Paróquia de Ifanes, sujeita ao respectivo Abade, mas mantendo uma casa paroquial, hoje convertida em palheiro.
II - A actividade económica e a sua administração foi prosseguindo ao longo dos tempos, sem grandes sobressaltos numa base monótoma e sob influência dominante dos eclesiásticos. Vamos ignorar o hiato entre a administração dionisina e o Séc. XIX, em que se produziram, de facto, as grandes mudanças administrativas do território natural com o liberalismo [V. História concisa de Portugal, de J. Hermano Saraiva]. De acordo com este historiador, os pontos altos da legislação do constitucionalismo monárquico foram : a legislação de Mouzinho da Silveira (1832), a extinção das ordens religiosas (Joaquim António de Aguiar, apelidaddo de Mata-Frades, 1834), as tentativas municipalistas e a publicação do Código Civil. Mouzinho da Silveira é, geralmente, lido como homem integro, tendo sido abandonado pelos absolutistas (monárquicos), pois segundo parece seria pedreiro-livre (maçon) e pelos liberais já que diferenciava poder político e bem público, era integro e não demagógico. Qualquer comparação com o estado actual da coisa pública é pura fantasia. Actualmente é tudo gente séria,desvia o que pode, corrompe e é corrompido quanto baste, e não se esquece de pertencer a qualquer loja ou corte para atingir altas virtudes e protecção assegurada. A extinção das ordens religiosas acaba com o poder eclesiástico e os seus proventos. Confisca mosteiros e vende-os ao desbarato. Actualmente, estámos a assistir ao  remake do mesmo filme. O mesmo fervor liberal, resquícios do presente. Sector público uma peste para a economia liberal.
Angueira parece ser uma freguesia a abater pelo Relvas &Comp ª e convém preparar uma resposta nos campos relvados. Houve uma reforma administrativa (Decreto de Regência-Ilha Terceira,1830) que precedeu a de Mouzinho da Silveira (1832). A reforma de MS é centralizadora, sendo o  Reino dividido em  provincias, comarcas e concelhos, geridos por Administradores (Prefeitos, Sub-prefeitos e Provedores) de nomeação régia e apoiados por Juntas electivas (locais). Duas teses que ainda hoje se defrontam : teoria centralizadora ou descentralizadora? Todas as reformas que se seguiram estão marcadas por este ou aquele posicionamento, com prós e contras de parte a parte. Qual é o objectivo final? Melhor forma de sacar dinheiro ao Zé Povinho e a manutenção de clientelas! Dito de maneira mais suave : cobrança e distribuição de impostos. No último quartel do Sec.XIX, foram apresentadas cinco reformas da administração local (1878,1886,1892,1895 e 1900), juntando ainda cinco códigos administrativos (1878,86,95,96 e 1900). Foram objecto de estudo de Marcelo Caetano (desde 1836-1935), fazendo pare d e um curso normal de Direito.
Os códigos de 1878 e 1886 eram favoráveis a uma descentralização sensata. Consideravam os magistrados administrativos como entidades da Administração pública, não dependentes do local, mas estando presentes não estavam num plano omnipresente, já que havia juntas locais em segundo plano. Atenuavam a relacção centro-periferia. Rodrigues Sampaio sintetizou a sua argumentação da seguinte forma" Um bom sistema administrativo deve apoiar-se numa boa divisão territorial, e para melhorar a máquina administrativa local deveria coincidir o concelho com a comarca". Referia três termos "Administração, Fazenda, Justiça" no mesmo local. Em 1878 havia 21 distritos no país continental, 295 concelhos e 160 comarcas. A aplicação directa do critério prático reduziria significativamente  o número de concelhos, e não foi aprovado pela Câmara dos Deputados. Esta argumentação foi rebatida, precisamente na premissa que a supressão de um município constituia sempre um acto de centralização, um acto anti-natural que contraria o desenvolvimento histórico natural do municipio em Portugal, que materializava uma conjunção de interesses locais sagrados. Este ponto de vista foi defendido por vultos culturais de grande craveira como Alexandre Herculano na base de que os poderes locais constituiam a essência do poder democrático. De 1832 a 1887, a administração local oscilou entre centralizadora e descentralizadora. Contra a versão descentralizadora existia um factor importante a considerar: impreparação dos representantes locais (rareavam as pessoas que sabiam ler, e portanto não poderiam representar a dinâmica local e caminhar para o progresso e desenvolvimento do local).  O codigo de 1886 previa a possibilidade do governo fundir concelhos. Como se vê, a reforma liberal, quer num quer noutro sentido, foi amplamente discutida, pelos legisladores, parlamentares, pareceres vários, códigos e outros estudos. Podia ser interessante para os relvas actuais, que ao que parece já não toca nos concelhos para já, mas ataca nas freguesias. Não parece haver grande mal na supressão de Angueira, pois na verdade funcionou com representantes de partido único e só se prejudicou a si própria com essa mentalidade tacanha imposta, por vezes, por mandarins locais. Se é verdade, que estar representada em Vimioso não constituirá obstáculo de monta, já agregá-la ao concelho de Mogadouro - num qualquer pacote, Angueira deve considerar um rotundo não e deve oferecer em contrapartida ao Relvas um burro (animal sóbrio e de inteligente memória, como por lá se define!) que o conduzirá contrariado, em passeio turístico, de Angueira a Mogadouro! Porém o quadrúpede poderá conduzir o Relvas por outros caminhos, já que de espaço rural percebe nada, escolhendo Miranda do Douro ou ainda Bragança, por terras de Aliste.
Na década de 1880, havia uma corrente dominante para a associação de municípios. Remetemos os leitores para a análise deste período complexo da vida política, mas que tem a vantagem de apontar vários argumentos pró e contra. Houve quem defendesse a ideia de diferenciar os municípios , pois :" para efeitos administrativos , os municipios urbanos- próximos do governo, tem de fazer face a necessidades e meios financeiros superiores, por oposição a municipios rurais, cujo núcleo central é a igreja, baseada em interesses balizados por uma vida simples e interpendências simples de familias, maioritariamente católicas".
A questão do financiamento municipal é a base de todas as guerrilhas legislativas. Em 1872, Rodrigues Sampaio pretendeu impor alguma racionalização na divisão do território, mas não alterava o regime financeiro dos munícipios. A equivalência entre concelho e comarca foi rejeitada no Parlamento.  O código de 1878 atribuiu poderes  as camaras faculdades tributárias, em matéria de impostos indirectos, estendendo as possibilidades de tributação de artigos expostos -retalho, para artigos por grosso. Estes impostos acresciam aos impostos de carácter geral. Esta aventura durou dois anos, devido a desmandos da administração local. E aqui surge um dos retratos da situação actual. Luciano de Castro em 1880 dizia"  A ilimitada liberdade concedida às camaras para lancarem impotos, ..., estabelece de concelho para concelho desigualdades incomportáveis no ónus tributário..."  Só conduziu à desordem financeira , de criar dívidas incontroláveis ... necessidade imperiosa de tomada drástica de medidas para o saneamento geral da contabilidade pública ... credores à perna (ingleses) ...bancarrota. Este filme é actual, só que a despesa actual não provém essencialmente da administração local mas da vergonhice da falência de bancos privados e de  buracos financeiros mal contados! Um relatório de 1892, indica claramente " ... O tesouro não pode continuaer com o encargo de suprimentos a que o estado actual obriga, e o contribuinte , se não poe termo à desvairada tributação com que o perseguem as corporações locais, desde a Junta de Paróquia ate à Junta distrital, ficará exausto de recursos, e nem para o caso supremo da salvação pública haverá, dentro de pouco tempo, matéria colectável no País".
Foram apenas aflorados alguns aspectos da reforma administrativa no Sec. XIX.  Passos & Passos cantarola músicas antigas. Por esta época, os conceitos de unidade e solidariedade nacionais são invocados para fundamentar os príncipios sagrados "da escola liberal" associada aos "principios descentralizadores sem regras". O Zé Povinho nunca foge de malhas e redes artilhadas: libertou-se do tributo aos mosteiros, caiu na de váriados senhores possidentes, caiu na malha liberal- centralizadora ou descentralizadora, dos odiosos impostos municipais, libertou-se destes e caiu de novo sob alçadas de troikas antigas e modernas.
De 1878 a 1910, apesar de tudo os municipios defenderam-se como puderam, ganhando um pequeno poder  a nivel local apesar de antigos senhores das finanças públicas, como J.Ferreira Dias, quase lhe tivessem passado um papel de entidades descartáveis. De notar que o conceito de freguesia só surgiu com a República, confundindo-se praticamente o conceito de paróquia (eclesiastica)n com a paróquia civil, hoje designada por freguesia ( com algumas anexas). O desenvolvimento recente é conhecido da maioria, pelo que não será referido.
Conclusão : Traçou-se um percurso histórico da administração de Angueira, em pinceladas largas e parcelares. Não é do nosso conhecimento, uma vinculação permanennte a Mogadouro e nos tempos actuais não faz sentido qualquer tipo de subordinação a Mogadouro, incluindo o tema florestal.. Os governantes de Lisboa , autênticas iminências virtuais, não sabem o que significa uma deslocação a Mogadouro e são efectivamente mais potenciadores bombistas sociais que podem levar a um qualquer Maio de 68. Porque não reclamar um automóvel individual, um autocarro de luxo para a deslocação? Dependência de Mogadouro, não! Os taxis da região devem ser entregues a esses iminências já que permitem  o deslocamento por caminhos ínvios e evitam as auto-estradas transmontanas cuja factura recusariam pagar se tivessem poder absoluto. Para já ainda não têm, e com esta governança, nunca passarão de míseros  cobradores de fraque .

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A inteligência dos cretinos ...

Os patrioteiros do PM não poupam esforços para justificar o indefensável, a falta sistemática de coerência e a protecção da carteirinha privada. Repetem até a exaustão que o sacrifício é para todos e é um problema de emergência nacional.  Todas as posições destes, escritas ou faladas,  fundamentam o corte nos sálarios e reformas do sector público pois funciona esta quebra de justa expectativa como corte do défice público e assim ajudar a salvar a pátria que é de todos. Lançar meia hora de trabalho adicional, sem custos, para o sector privado é lançar poeira aos olhos dos cidadãos. Contribuem para a melhoria dos bolsos dos empresários exportadores (estruturas industriais sólidas nem precisam deste favor eufimistico do governo), piora o bolso dos pequenos industriais e comércio e é uma pura medida inócua. Serve, todavia, para contrapor ao roubo, descarado, brutal e indecente ao sector público. É claro que há gente do sector privado que delira com o facto. Aguardemos para ver se a faca não lhes será também apontada. A justificação peregrina do PM só revela que as suas afirmações não tem resposta em dados objectivos. Não é grave na boca de um cidadão qualquer, na de um PM é incompetência. Talvez desconheça, o que é grave, qual o salário mensal recebido em tempos recentes por um administrador hospitalar, de nomeação política patrioteira. Exemplos caem do céu aos milhares, mas determinados figurantes da TV não se cansam de repetir a justeza da medida. Sem rodriguinhos, falinhas mansas, imbecilidades, raiva antiga ou outra causa qualquer, a questão é simples: funcionário público (parte da população) paga e  do sector privado (outra fracção) não paga. Confunde-se o todo com a parte e vice-versa quando convém. O funcionário público tem sido,de modo sistemático, sujeito a uma contenção salarial e mesmo a sua redução de 5 a 10%. O desemprego na função pública também existe, por exemplo os professores. Se existe, como se diz, um estado de emergência nacional, então em que ficámos? Deixo uma pergunta . Qual o crime cometido por ser funcionário público? Sacrifícios sim, mas tomados por parvos não! Está escrito nas nuvens, a esperteza salóia do aprendiz de feiticeiro. A polémica do pagamento de 12 ou 14 meses é de cabo de esquadra. A Relva brilha com tanto fulgor que não permite equacionar o problema. Há nevoeiro cerrado. Trata-se da importância global de 14 meses dividida por 12 prestações? Há 12 salários, roubando 2. Aplicabilidade temporal?  O nevoeiro traz no seu seio mais imbróglios, quiçá mais buracos ou más tormentas. Falar verdade dói!
O neófito neo-liberal, sem consistência intelectual e teórica firme, pretende ser um bom aluno na Europa e nada melhor que exceder a troika, sendo mais carrasco do que se lhe exige. A pleiade de seguidores faz o mesmo, com os estafados argumentos.  Quando o chefe fala, o obediente e submisso carrasco, esquece eurobonds. Esquece reformas milionárias de gente que, tendo outras fontes de rendimento, e sendo  época de emergência nacional  passa, sem pudor,como pato sobre lago tranquilo. Pressionados pelas baionetas desesperadas que já se levantam, deixam cair subsídios e prebendas. Só que existem muitas outras que ainda têm que cair. Circulam na Internet  à mão de um simples toque, e esta também é uma maneira de questionar.
Alguns beneficiários destas reformas já abdicaram, e embora legalmente decididas pelos próprios, se a situação é de emergência nacional, não declarada, então sim os políticos e ex-políticos teriam actuado com seriedade e honra, abdicando delas. Tardiamente, e para não haver mais chatices com a pressão popular, abdicam não se esquecendo de referir a legalidade.  De facto, é assim. Porém, já se sabe que teorias morais não coincidem  com ética política. E então, nos casos politicos que vão surgindo todos os dias, moral, ética, justiça, economia e outras coisas, são conceitos petrificados. O resto é conversa fiada, letra morta. Uma farsa, levada ao palco com maus actores!
A Grécia decidiu baralhar a UE com a proposta de um referendo. Na sequência do que se escreveu, o assumir do pagamento integral da dívida e dos compromissos assumidos por parte do país não é questionável e é a única saída para um homem, português livre.Porém, não se pode aceitar de bom grado decisões cruciais de  um PM exótico que diz inverdades, se traveste de mais troikista que a troika, fala de palcos colombianos ou outros, gere o país à la carte e desperdiça toda a noção de bom senso político baseada num espirito construtivo de todo o país para a solução deste imbrógio de responsabilidade política e de grandes interesses econónimos. Objectivamente, não escolheu o processo construtivo solidamente assente na transparência de processos, sacrificios equitativos entre trabalho e capital. Pelo contrário, se o seu horizonte acaba no sector público como fonte de todos os males deste país, enão estámos perante um homem limitado. Só que o desfecho é trágico. O processo "grego" já está instalado em Portugal e fatal como o destino. Todos percebem que se se destroi toda a actividade económica que ainda resta, se o desemprego é parte menor em tudo isto, se se proletariza quase toda a classe média, se se  mente sobre o montante dos salários público vs privado, se as medidas de uma acalorada ministra da agricultura se reduz a gravatas, se qualquer ministro que se preze esmifra o cidadão até ao limite, então a saída vai ser brilhante. Fatal como o destino, não pagamento da dívida e Portugal lançado ao inferno do esquecimento, proscrito como herege pelo capital financeiro sem rosto e sem escrupulos, e com afloramentos directos nas cambiantes troikas portuguesa, grega ou outras. Money is money! We want our money back! Porém, ainda o processo pode avançar a outros patamares mais sádicos. A descida de patamar das reformas mais baixas. Há ainda o degrau, em linguagem marxista para chatear, do lumpen do proletariado. Ou em linguagem mais polida, em noite de bruxas-tempo de Halloween, mendicidade porta a porta confundida com a receita, pão por Deus! Resta saber como se aplicará  e aplacará a ira dos controversos deuses no espaço e no tempo!
A história aponta factos passados e, com distância temporal grande, consegue explicar com relativa exactidão a fundamentação dos factos. Quanto mais informado se estiver melhor se desmontam as situações do presente.  Meter Portugal, Grécia e Irlanda no mesmo saco´não tem qualquer sentido. Sacudir a Grécia como se tivesse peste, referir Portugal como Obama o fez, ou dizer que a Irlanda está no bom caminho é falar meias verdades. O país soberano que desejamos que continue só tem uma saída, resolver equitativamente os problemas financeitos actuais, com sangue suor e lágrimas assumido por todos (todos é mesmo todos) e estabelecer as bases do desenvolvimento tecnológico que, errada e deliberadamente se faz crer que está no voltar de 2012. Imaginem um circulo de patetas a afirmar que a Mercedes ou a WW são empresas que foram criadas ontem ou anteontem! A linguagem criptada dos políticos refere que a Irlanda está a começar a sair da crise. É evidente que as empresas tecnológicas lhe permitem vencer as dificuldades presentes. E Portugal ? Forçado a vender as empresas qe interessam aos troikistas. E porque não apontar baterias para as minas de ferro de Moncorvo, não descurando outras minas? Que ganha Trás-os-Montes com isso? O mesmo que com a EDP e as barragens. Nada, ou trocos miudinhos. Na linha do Sabor circulavam as velhas máquinas a vapor, espólio da 1ª.Grande Guerra. Beijavam a base dos montes do ferro e recolhiam as vagonetas a vermelha hematite  para a produção de ferro. Até um dia. Até que, e tudo o vento levou!!!
VE_0211_11

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

De passo em passo a Coelho bravio

  • De passo em passo a Coelho bravio

Em textos anteriores, apontámos o estado a que este pobre país chegou. Existem razões externas, recentes e antigas, e outras directamente resultantes de políticas internas levadas a cabo por políticos cuja responsabilidade e competência técnica e política deixam muito a desejar. As razões externas apontam para as onerosas e iníquas guerras dos USA, como policias mundiais dizem eles, e que culminou com a crise do subprime e a falência do 3º maior banco mundial: o Lehman Brothers. Os centros financeiros transformaram-se em casinos e não para financiar as actividades económicas produtivas. As off-shores de interesse americano e ingles proliferaram e mantem-se activas. Perdia-se o rasto ao dinheiro. Os bancos convencionais aderiram. O declíneo industrial dos USA, no contexto da globalização, já é visível e a riqueza criada transitou do dito mundo ocidental (USA e Europa) para o oriente (China). A Europa implantou as suas fábricas na China, explorando a mão de obra barata e sem direitos individuais ou colectivos dos trabalhadores chineses. Os produtos de baixo custo e, muitas vezes, de fraca qualidade invadiram todos os mercados europeus, incluindo o mercado português, os célebres produtos "Made in China". A maioria dos produtos portugueses deixou de ser competitivo, caso dos texteis e outros, e as empresas de tecnologia de ponta portuguesas sempre rarearam. Os fundos europeus entraram em catadupa. Desconhece-se, por não haver interesse nisso, qual o seu destino final. Onde foi parar o dinheiro? Aos bolsos dos funcionários públicos? Carrinhos, carrões, jipes e jipões são uma pequena parte do imbróglio e do iceberg que agora nos ameaça de modo letal. Scuts e auto-estradas, foram o destino mais directo e simples desse dinheiro. O cidadão comum ficou à margem dessa luta leonina de parcerias público-privadas, onde a corrupção, o compadrio, os contratos injustos, o benefício dos privados e os gabinetes dos advogados consumiram os dinheiros europeus, apesar de tudo provindos da Europa. Não há desculpa, o erro básico da má gestão é  da inteira responsabilidade portuguesa, com todos os políticos portugueses em primeira linha. Tudo começou mal com os primeiros dinheiros chegados, atribuiram-se subsídios e criou-se uma rede alargada de subsidio-dependentes, incentivando o abate de actividades produtivas, entre elas a agricultura e pescas, cuja responsabilidade é direcionada quase inequivocamente a um único destinatário (actual -PR) , bastando ler a imprensa. Começou mal, e mal continuou. As Scuts e auto-estradas eram um tanque gigantesco para onde escorria dinheiro a jorros, e à altura da construção das primeiras, inteiramente justificável.  Mas é óbvio, que se as primeiras se justificam em plenitude, a avidez do poder político e da manutenção das clientelas do tacho levou à construção desmesurada de uma grande maioria delas, e claro empurrando como última prioridade zonas despovoadas,como é o caso da auto estrada de Trás-os -Montes. Repetição do destino final do combóio em Miranda-do-Douro. Nunca lá chegou. Quadratura do circulo e a primeira linha de mira para a aniquilação de toda a linha férrea-linha do Sabor, e semelhantes Tua e Corgo. Irónicamente, a construção da auto-estrada de Tras-os-Montes foi decidida in extremis pelo governo Sócrates, já praticamente em ruptura com tudo e com todos. Bragança recorda quem e como fez evaporar o combóio do Tua a Bragança.  O cidadão deixou de receber mercadorias de e para Bragança. Punhalada mortal. O Itenerário principal IP4 chegou tarde e a más horas. As vítimas mortais sucedem-se. Grande parte do seu trajecto segue o secular caminho romano. O actual PM, com todos os elementos do seu governo, está a perder uma oportunidade histórica, não percorrendo de camioneta todas as curvas e contra-curvas desde Justes a Bragança. É aconselhável a companhia de toda a família, pois é uma situação mais realista. Era uma lição experimental soberba. Perceberiam que não existe alternativa ao IP4, penso eu, a qual por sua vez vai se houver dinheiro para tal converter-se na  hipotética auto-estrada transmonta. Paga tal como foi dito de inicio, não fossem beneficiar mais que os reclamantes algarvios sobre a via do Infante. E de todas as até aqui utilizadas sem portagem (A23,A24, A25, ...).
De toda a prosa anterior, deve concluir-se que os cidadãos são todos iguais perante o imbróglio letal em que  todos os portugueses estão envolvidos. Os políticos mentem quando dizem que não somos todos iguais perante este cenário de crise (frase humorística). Todos somos responsáveis e igualmente responsáveis, espante-se!
Contrariamente aos que os politicos e as suas claques dizem, a começar pelo PM, os portugueses já percebem com nitidez a mentira e a falácia dos políticos. Jogaram com a boa fé dos portugueses mas esse tempo acabou e, agora, as afirmações dos políticos são e devem ser testadas e escrutinadas, sem dó nem piedade. Olho por olho, dente por dente. Há muita gente inteligente, que de boa fé delegou nos políticos, a gestão da coisa pública. Estupefactos e tardiamente acordaram lubridiados. O tempo agora vai ser de combate. Acho que a JSD fez bem em iniciar a fogueira inquisitorial de responsabilidades. Aliás, é pelas várias juventudes, que o descalabro português começa e se perpetua. Ficam isentas todas as outras juventudes individuais-sem idade, as vítimas, recorde-se.
A proposta de OE-2012 revela o carácter neo-liberal, liderado por um ex-lider JSD, que renega dia após dia, o que no dia anterior afirmara. Olhe-se para a imprensa, para a rua, para o cidadão comum e faça-se uma  retracto deste personagem, aliás não diferente de anteriores e posteriores de diferenciadas juventudes. É rotulado de pouca solidez formação académica, surgiu tardiamente com muitos anos-38, após a idade da morte de J.Cristo. Diz-se representante de todo o povo portugês, arrogando-se o direito de manipular a espada sobre a cabeça de todos os portugueses. De facto não é: o seu poder advém de uma fracção dos membros do PSD, multiplicado pela fracção dos portugueses que nele votaram. A democracia é assim. Dito e aceite. Porém, há valores fundamentais que transcendem este poder delegado.
1. A chuva que a providência divina, seja ela qual fôr, dá como prémio a toda a comunidade portuguesa, vai deixar de o ser. Esse maná vai ser destinado à venda e sua comercialização, por uns trocos. Genialidade monstruosa. A água, valor estratégico inestimável para uma comunidade, entregue a negociatas.
2. A ira do PM contra os funcionários públicos está a levantar clamores. A falácia do PM não colhe. Como exemplo, o Público de 19.10.2011 mostra que os funcionários públicos não ganham mais 10% que os  do sector privado. Quando fala de sacríficios para todos os portugueses, ataca-se o sector público de maneira brutal e liberta dos mesmos, os do sector privado. Bem prega frei João, bem os seus acólitos se esforçam para justificar tal acto. O PM refugia-se na plateia PSD para encontrar algum conforto e repousar o seu terno ombro. Muitas vozes da tribo apoiam com veemência, muitos ainda imberbes. Não lhes toca nos seus bolsos.Veja-se o que anda a circular pela Internet, a título de exemplo.
3. A transparência da publicação dos buracos em folha Excel-simples,como se indicou anteriormente,  para esclarecer os cidadãos atinge a espessura fina das nanotecnologias. Não se vê, como convém. BPN? Madeira? . . . Buracos desconhecidos, ficticios e provocativos? Aldrabice nas contas outra vez? Têm que explicar! Parece que o Snr. PR está a acordar, mas se não tem consequências no OE-2012, é irrelevante a sua opinião.
4. O cidadão comum fica perturbado perante a política tortuosa, que oscila entre a quase mentira e a mentira tout-court. Dada a complexidade dos temas tratados num orçamento de estado OE, é perfeitamente natural e compreensível a perturbação dos cidadãos. Mas já se está bastante longe do come e cala e da falta de compreensão elementar da entrada traiçoeira dos políticos na bolsa dos cidadãos. É fácil compreender que devido ao anterior governo Sócrates e ao do actual Passos Coelho, o salário do funcionário público foi reduzido de cerca de 25%, num periodo relativamente curto. O cidadão deve começar a exigir um factor adicional de 15% sobre os políticos, totalizando 40% como prémio total para  a incompetência técnico-política de muitos responsáveis e da graduação das mentiras pinoquiais. Decidiu o PM atiçar o sector público contra o privado.Não convence.
5. A matriz dos últimos governantes Sócrates-P.Coelho-Seguro aponta para a partidocracia reinante. Que tal sujeitar os putativos candidatos a PM, a um exame prévio ao estilo da École Nationale?  Há um senão, quem é o irresponsável que amanhã se candidata a PM? Hoje ainda gozam da impunidade política.
Claro que ainda há gente séria. A estes é devida a gratidão de todos, pelo esforço que, na actualidade, deve ser sobre-humano. Mas medidas orçamentais, geradoras de inequidade patente, que só o fundamentalismo cego não vê, não muito obrigado.  Basta! Para acalmar os ânimos não vejam no texto qualquer vinculação política. Mas pretende não ser amorfo.
Para quem estiver interessado pode aceder
  1. À proposta de OE-2012, clicando aqui.
  2. Salários e benesses de caras politicas conhecidas da TV: tente aqui
  3. Conclusão: individual !!!

domingo, 25 de setembro de 2011

Capela de São Miguel - Data de construção provável

Capela de São Miguel e o Mosteiro de Moreruela

A Capela de São Miguel está localizada num vale, abrigada de ventos extremos. Anteriormente, sugerimos que este vale poderia ter sido palco da refrega descrita pelo Abade de Baçal. A descrição figurativa desta refrega  encontra-se ilustrada abaixo, trabalho realizado  por R.F. Os elementos figurativos principais estão focados no cavaleiro principal, combatendo pelas hostes cristãs e na deposição das armas pela parte muçulmana vencida.
Batalha imaginada -Campo de São Miguel/Serro/Cocolha

 Na parte superior, está representada uma alegoria com o Arcanjo São Miguel e o diabo a seus pés e a representação das virgens no âmbito da guerra santa islâmica. A Capela idealizada pelo "general", em caso de vitória está representada também na alegoria.  A imagem de São Miguel existente na Igreja não está em sintonia com esta alegoria, já que a imagem da Igreja constitui um exemplo recente, em que o Arcanjo é substituído por um general romano. O diabo em forma humanóide, esse, é comum a ambas. Uma análise detalhada permite verificar que está a fazer jogo duplo. Aos mouros acena-lhe com as virgens e o ouro perdido, e quanto aos cristãos perverte o claro pensamento das mulheres representadas e do ouro resultante da captura e  da espoliação aos mouros. No fundo, são as lendas da moura encantada na fonte da Cocolha e o ouro que ela potencialmente encerra. Fantasias de pintor ou talvez não!

Fig.1 - Data da Capela (Porta de entrada)

A Capela de São Miguel tem , acima da porta de entrada, uma data, como se indica na Fig.2. A data escrita parece indicar 1282. O algarismo "2" poderá parecer um "7", alterando completamente a sua datação. Porém, parece-nos que a data correcta será "1282" que se encaixa no período da dependência de Angueira do Mosteiro cisterciense de Moreruela, pois a data do foro de Angueira é de 1297(carta foral). Recorreu-se a um programa de computador e sustenta a data indicada "1282", em desfavor de "1782", ou ainda"1787" dado o seu picotado. Pelos números se pode verificar que o artífice que trabalhou a pedra, não era eximio no tratamento da cantaria.  Em particular, o número "8" , adivinha-se pela sua simetria. Uma das normas indicadas no foro de Moreruela, permitia a sepultura em Angueira, recebendo o Mosteiro parte dos bens em troca, e provavelmente seria a zona envolvente da Capela o local do repouso eterno. Parece também ser claro que as freguesias de Palaçoulo e Àguas Vivas andam associadas à gestão religiosa de Moreruela, e como tal, seria normal que houvesse encontro das suas populações pela festividade de São Miguel.

Fig.2 - Visão parcial do Mosteiro de Moreruela.

Já referimos que não é totalmente claro se foi o Mosteiro de Moreruela  que deu origem à construção da Capela, podendo esta ser de data anterior. A questão prende-se com o citado" general" que segundo o Abade de Baçal teria sido o impulsionador da sua construção. Há um dado que escapa. Qual a fonte do ilustre Abade de Baçal, perito nestas andanças,  para fundamentar a sua versão? De facto, à época da importante influência do mosteiro de  Moreruela, já as lutas entre cristãos e mulçulmanos na zona estariam encerradas. Daí , se ter concluído anteriormente, para um período anterior como data da sua construção. Provávelmente, o Mosteiro teria contribuído com  o embelezamento da Capela que poderia ter sido tão somente a mudança da fachada principal para granito, em substituição do xisto que constituiria a capela original, certamente modesta como símbolo desses tempos. De referir que a pia baptismal (de granito) ainda se encontrava lá em tempos recentes.
Nesse período, em plena idade média, o pensamento religioso era provavelmente comum a todas as comunidades religiosas, sendo particularmente recorrente o tema do inferno, das almas e da concepção do Arcanjo São Miguel. Conceptualmente, não seria muito diferente de uma existente em Espanha (Fig.3)
da mesma época (Sec.XIII)



 Fig.3 - Capela de Seriguela (Sec.XIII).

Conclusão:  Para aligeirar o texto indicámos, apenas, os pontos capitais da Capela de São Miguel. A verdadeira história dos factos não se conhece ainda. Crê-se que os documentos do Mosteiro de Moreruela e o seu Arquivo poderão lançar mais alguma luz sobre a data da  sua fundação. Com base na história do general citado, enquanto eremita e guerreiro, poderia este  ter sido um monje templário? De onde vem a tradição dos cruzados, representados pelas crianças nas festividades religiosas ainda não há muito tempo? Qual a relacção entre os monjes de Moreruela e os monjes guerreiros? Sendo os monjes os detentores da cultura por excelência não saberiam eles coisas que não trasmitiram , comunicaram oralmente ou através da pregação. Não será  esta lenda, o eco desses factos? Angueira era uma Comenda da Ordem de Cristo. Qual a sua origem?  Eis um bom tema para um estudante de história da regiâo. (VE_2011).

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Capela de São Miguel - General e batalha

A personalidade do general

Os termos "General"  e " batalha" que constam do texto referido anteriormente requerem uma certa atitude crítica, na medida em que é comummente aceite que "General" comanda um exército de grandeza considerável e consequentemente estariam envolvidos dois grandes exércitos. Ora não parece ter sido o caso, como tentei sugerir, dado que a zona de Angueira faria certamente parte de uma faixa envolvente da via de circulação principal dos exércitos, em torno das vias romanas. A via da Prata que ligava Mérida a Astorga seria, portanto, a via de circulação principal e que os muçulmanos utilizaram a partir do Sul de Espanha para atingir a parte Norte da Peninsula, em direcção a Santiago de Compostela. Estes movimentos militares são mais ou menos bem conhecidos. A partir do declíneo do poder romano e com a chegada dos bárbaros-Suevos, é natural que toda a zona tenha entrado também em declíneo, com degradação da vida alcançada pelo Séc.III. Paulatinamente, os Suevos foram-se implantando no Norte, com capital sediada em Braga. Dada a característica deste povo migrante, viria a ser dominado por outro povo afim - Os Visigodos, que fizeram de Toledo a sua capital e acabariam por dominar os Suevos. O carácter belicoso dos Suevos para com as populações locais, acabou por envolver directamente o poder religioso na contenda em defesa das populações, tendo-se destacado o Bispo Idalécio de Chaves. Ora no seio da Igreja existiam várias contendas religiosas, derimidas nos Concílios. Esta perturbação deu origem a uma certa dissolução de poder e consequente insegurança das populações. Ter-se-ão vivido tempos conturbados desde as invasões bárbaras até a invasão muçulmana ocorrida em 711. Esta invasão muçulmana foi fulminante, pois, em poucos anos tinha assumido o controle de grande parte da Hispânea, devido à desordem e debilidade do Reino visigótico.
Uma nova realidade,cultural, política e religiosa, estava a instalar-se na península ibérica: designada por El-Andaluz. O poder remanescente do poder visigótico  foi o núcleo inicial da resistência ao poderio muçulmano.O que restou do reino visigótico ter-se-ia organizado nas Astúrias, acontecendo o primeiro embate entre Cristãos e Muçulmanos em Covadonga. As populações começaram por aceitar a situação, pois entre um poder e outro venha o diabo e escolha. Foram tolerantes quanto à religião no início, mas impostos e rendas pesadas sobre os cristãos ajudaram ao movimento organizado de rebelião: A Reconquista. Em traços muito largos, com a morte de Afonso III das Astúrias, os seus filhos partilharam o território, vindo o seu filho primogénito Garcia a intitular-se Rei de Leão (910-914). Por exemplo, Rabanales aparece citado num documento de Afonso III.  Entretanto o centro decisório passou das Astúrias (Oviedo), para a cidade de Leão. Zamora foi repovoada no ano de 912, e terá sido por esta altura que se teria revitalizado esta região. É neste contexto, que a influência leonesa se estende à zona de Angueira, trazendo consigo a matriz da língua mirandesa. Nesta indefinição, a possessão desta vasta extensão territorial era dominada pelos Bragançãos, com grande peso e influência política no reino de Leão. Estes Bragançãos iriam ter uma grande importância no nascimento da nacionalidade com D. Afonso Henriques. Não detalhámos a evolução político-militar do Reino de Leão e Castela, pois o nosso objectivo primordial é tentar saber em que contexto poderia ter surgido o citado "general". Dentro da problemática do Reino de Leão, procurou colmatar-se o despovoamento de algumas zonas com a vinda de populações francesas, da Borgonha, ao que parece com excesso de população e garantir a sua defesa por intermédio das Ordens Militares. Alcanices foi uma defesa muralhada da Ordem dos Templários, dela dependendo ainda em 1210. Da muralha apenas resta a Torre do Relógio. Transitou de mãos quando da extinção trágica da Ordem.
Do bom relacionamento político do Reino de Leão com o condado da Borgonha, acabou por vir neste pacote,  o pai de D. Afonso Henriques, com casamento aprazado com Dona Teresa.  Dona Teresa tem sido maltratada, por vezes, mas foi a genuina motora da criação de um reino próprio seu, sob o qual ardentemente desejava ser futura rainha. Lutou, sendo seguido neste caminho pelo Infante Afonso Henriques. Divergências políticas colocaram-nos em confronto (batalha de São Mamede), sob a influência religiosa do Arcebispo de Braga.
Do meu ponto de vista, este é o factor relevante para a conjectura sobre o General que tentarei fundamentar. Desde Salamanca, a via da Prata dirige-se para Zamora, daqui podendo derivar para Bragança, através de Alcanices. De notar que a unidade romana de distância entre as "mansões ou paragens" era de 42 milhas romanas, que corresponde a 62 Km actuais. Estas paragens acabaram por transformar-se nos núcleos centrais das cidades actuais : Salamanca, Zamora e Benavente entre outras.
Os costumes e a espiritualide religiosa de Cluny prevaleceram durante o reinado de Afonso VI (1065-1109), imperador de toda a Hispânia e conquistador de Toledo em 1085. As sortidas militares e o seu avanço para o Sul, forçou os reis muçulmanos das taifas  de Granada, Sevilha e Badajoz a pedir ajuda aos Almorávidas. As investidas cristãs eram ,em geral, parceria de vários reinos cristãos e de reinos muçulmanos aliados. Destaca-se El Cid na liderança das hostes cristãs. Porém, Afonso VI foi derrotado pelos muçulmanos na célebre batalha de Zalaca (1086). Avanços e recuos das forças cristãs, tornavam todo o território hispânico inseguro e instável.  Esta instabilidade permanente desde o Sec. VII até ao XI, conduzia em termos religiosos a um certo isolamento do mundo real, ou seja o fenómeno eremita era bastante frequente e admite-se que a associação de alguns poucos eremitas estivessem na origem de pequenas capelas ou lugares de culto onde fosse possível praticar e assistir a actos religiosos fundamentais.
Os acontecimentos do El-Andaluz e do avanço da religião muculmana ao continente europeu  vieram despertar algumas consciências europeias, tornando-se os pensadores proeminentes da Europa, em particular  São Bernardo de Claraval. Ora este Santo procedia de família influente do Condado da Borgonha, tal como D. Henrique da Borgonha. Há aqui laços familiares com D. Afonso Henriques que alguns historiadores consideram relevantes, por duas ordens de razão: o aspecto religioso e o militar. Sem entrar em pormenores, Angueira acabou por ser associada ao Mosteiro de Moreruela - cistercience (parte religiosa e organização económica) e D. Teresa (1127) foi a primeira doadora de bens à Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão-Templários (Fonte Arcada em Penafiel, seguida de Soure), estatutos que São Bernardo redigiu. Distinguiu-se na tomada de Jerusalém (1096) aquando da 1ª. Cruzada. Esta ordem contava apenas com 9 membros em 1118, transformado-se numa organização poderosa, temida e invejada,em menos de 200 anos.  A implantação dos mosteiros cistercienses em Espanha parecem ser de data tardia, mas estes mosteiros tiveram uma influência capital no repovoamento e na defesa cristã  contra os mouros. Os Templários de Alcanices deram o seu contributo para a defesa, sendo apesar de tudo uma fronteira mais ou menos segura, àparte as investidas das hostes muçulmanas. O próprio Afonso Henriques foi armado cavaleiro em Zamora (1125), e segundo alguns historiadores era um dos Templários. Os Templários sofreram uma pesada derrota em Soure, vindo D. Afonso Henriques a doar-lhe Tomar (1159), sendo seu primeiro mestre Gualdim Pais. D. Afonso Henriques não apenas recorreu aos Templários como componente defensiva do território cristão (inseguro a partir de Coimbra) mas como parte integrante de conquista.
A Ordem foi extinta em 1307 por Filipe o Belo em França e o seu Gão Mestre, julgado e condenado à fogueira.  Os seus membros dispersos e perseguidos, tudo sob o beneplácito do Papa Clemente V. Houve uma excepção de desobediência inteligente à ordem de Filipe o Belo, respaldada pelo Papa Clemente V. O então Rei de Portugal, D. Dinis, que conseguiu convencer o Papa Clemente V que os Templários em Portugal seriam enquadrados por uma nova Ordem - A Ordem de Cristo, dando assim protecção aos cavaleiros templários foragidos e impedindo a confiscação dos seus bens com base numa argumentação jurídica da sua posse. Os bens dos Templários seriam da Coroa, conservando eles apenas a sua delegação de posse. Quão distante estamos dos yes-man dos tempos de hoje!
Regista-se o fragmento do texto que refere o aparecimento de uma lança nas imediações da Capela de São Miguel, e que faz também parte do património histórico de Angueira e depositado no M.A.B.
Conclusão:  A conjectura sobre a personalidade do general referido enquadra-se nos primórdios da nacionalidade portuguesa, sendo do nosso ponto de vista dar como data possivel em que esses acontecimentos tenham ocorrido no intervalo : 950-1140. O artigo indicado anteriormente, deve ser ele próprio, inspirado nos escritos ou transmissão oral do Mosteiro de Moreruela (?documentos). Sabe-se que o Museu Abade de Baçal possui o fragmento de um  objecto - lança encontrada nas imediações da Capela. Ora se houve uma batalha, deve haver vestígios e, por informação de um conterrânea, há vestigios de achados não totalmente explicados nas imediações. A referência a eremita poderá ter a ver com os votos da Ordem (castidade, pobreza, obediência), e do monje -militar, o da defesa da cristandade , não só dos mouros como de simples salteadores. Dada a complexidade deste tema, não deve descurar-se a leitura da bibliografia sobre estas questões.

Para finalizar, uma outra questão se levanta: o da provável edificação da Capela original. Tudo leva a crer, que sofreu várias reconstruções ao longo dos anos, estranhando-se o facto dos monjes de Moreruela - tão diligentes na escrita das normas do Foro de Angueira, não se refiram a esta questão.Voltarei ao assunto (V.E._2011).

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Capela de São Miguel - Enquadramento histórico - II


A fundação da Capela de São Miguel (Angueira) perde-se na bruma dos tempos. A historiografia da região do Noroeste Peninsular, desde a época romana até ao Séc. XI-XII tem tantas lacunas que não poderá haver certezas quanto à data da sua fundação. Portanto, a nossa visão sobre a Capela de São Miguel tem que se apoiar sobre várias premissas e sugestões, nem sempre de fácil validação. É, todavia, este desafio que nos estimula na abordagem deste tema, e onde não há certezas, há sempre a possibilidade de discutir hipóteses plausíveis e fundamentadas.
O Abade de Baçal, homem culto e letrado, admite como plausível a hipótese da existência do referido general, não fazendo porém um enquadramento histórico possível dos acontecimentos em que foi líder militar. É sugerido um enquadramento político-militar, envolvendo batalhas entre cristãos e mouros. Ora isto poderá significar o lato período da Reconquista, não só o período de ascendência do reino cristão do Norte bem como o período posterior da manutenção baseado em ordens religioso-militares como os Templários. Há dois conflitos evidentes: A fundação da Capela não significa necessáriamente a data em que teria ocorrido a batalha e, portanto, ser contemporânea do general em causa e a explicação do aparecimento da lápide (assente no jardim de Angueira) que, segundo a minha opinião está no local errado (Vale de São Miguel) dado que aparecem as letras "D.M.", de natureza manifestamente romana, não cristâ. Existe a possível explicação da sua anteriormente reutilização, tendo sido transportado da Cocolha  para o Vale de São Miguel. É uma operação, conhecida e frequente.
Nada impede,também, que não caia na plausível época da reconquista. Não é de excluir liminarmente a eventual fundação no periodo visigótico-cristão.
Antes do mais discute-se se esta região, tal como a de Aliste, pertenceu à zona de influência dos Astures ou dos Vaceus. De qualquer modo, os rios de capital importância são: o Douro e o Esla. Para fixar ideias, refere-se as datas importantes da Romanização da zona particular de Angueira (contígua a Aliste) e que nos permite também esclarecer a influência do poder religioso nesta região. A penetração dos Romanos nesta área anda associada às campanhas bélicas de Roma contra a Península e da procura intensa de metais preciosos (ouro e prata) que faziam, na época, da Peninsula Ibérica o maior produtor. Admitindo o rio Esla como limite ocidental, Aliste e a zona de Angueira estaria associada aos Astures e não aos Vaceus. A divisão administrativa de Augusto, cerca do ano 27 (A.C.), pertencia à Espanha Citerior ou Tarraconense, no convento jurídico de Asturica. É desta época a Tessera das gentes dos Zoelas, actualmente em exposição no museu Abade de Baçal-em Bragança. Daqui decorre a importância histórica de Astorga, para esta região. Os Astures resistiram e deram luta tenaz e persistente aos Romanos, obrigando-os a fazer dois assentamentos militares para a manutenção da paz na região (Legião VI Vitrix -perto de Braga, Legião X Gemina em Astorga e pouco depois em Rosinos de Vidriales (Zamora). Esta região funcionava como zona tampão para os Astures, garantia o acesso às zonas auriferas, funcionava como via alternativa da circulação militar e servia de recrutamento de tropas auxiliares nativas.
A implantação da Capela de São Miguel prende-se, então, como uma consequência lógica de uma zona de aparente bom entendimento entre Romanos intrusos e nativos, permitindo estes um certo entendimento e fácil passagem da circulação militar. Refere-se o caminho mourisco, ligando Rabanales ao Planalto Mirandês com passagem perto de Constantim. Ora é fácil mostrar que este caminho admite alternativas, com particular focagem numa possível passagem por Angueira, em direcção ao Planalto Mirandês. Só que cada um vai puxando a brasa à sua sardinha. Embora o Castro da Cocolha tenha sofrido uma degradação brutal ao longo dos tempos, ainda é possível observar escórias de ferro por todo o lado, e que poderão estar associadas (ou não) a certas infra-estruturas requeridas para o transporte de bens, gente e circulação militar. A via principal Braga-Chaves-Astorga andava associada a várias vias secundárias entre elas a derivante Bragança-Babe-Rabanales... Astorga.
A zona de Aliste e o Planalto Mirandês permitia ter acesso a Lamego (Lamecum), bordejando o Douro com relativa segurança.
 Com a derrocada do império romano ocidental, o poder político desta zona  passou para o Reino Suevo com capital em Braga (409-429) e que culminou com a vitória dos Visigodos que fizeram de Toledo a sua capital, sendo incorporada por Leovigildo cerca do ano 585. A invasão muçulmana ocorreu no ano 711, tendo o lider berbere Tariq vencido o Rei D. Rodrigo na batalha de Guadalete. Nesta altura, Bragança e a zona fronteiriça de Aliste navegavam debaixo das mesmas bandeiras e das mesmas espadas afiadas, ou quase, até ao aparecimento da separação das zonas de influência politico-religiosa  e definição de fronteiras. Aliste esteve sob jurisdição ora de Braga ora de Astorga. Com o nascimento do Condado Portucalense e a liderança de Dona Teresa, casada com Henrique  da Borgonha (françês), e filha de Afonso VI, Aliste viria a ser reivindicada como parte integrante da herança de seu pai. Viria a conseguir esta pretensão em 1125, com o apoio e ajuda do Arcebispo de Santiago de Compostela. Nos Séculos IX e X, Astorga reclamou este território,  aproveitando-se da devastação de toda a zona de Braga.
Conclusão : A implantação da  Capela de Sâo Miguel deriva, de modo indirecto, da  importância estratégica atribuida pelos romanos a esta zona, por estar perto das vias principais de acesso militar à Peninsula Ibérica. É, na verdade uma zona periférica, mas foi em torno deessas vias que iriam desenrolar-se acontecimentos históricos importantes. Foram, também, estas vias utilizadas pelos exércitos muçulmanos para a invasão da hispania. As datas apontam para 718, como o ano de eleição de Pelayo e a derrota dos Muçulmanos em Covadonga em 722. A provincia de Zamora e Bragança só será recuperada muito tempo depois, tendo a Reconquista sido completada por Afonso III. Este reinado durou de 866 a 910. A zona de separação bem definida entre Cristãos e Mouros estava por esta altura enquadrada pelos rios Douro e Minho, em toda a sua extensão, com enclaves até Coimbra. As refregas e batalhas eram, na época recorrentes e é, neste contexto, que se cita no texto antigo a referência a uma batalha liderada por um grande general. Do meu ponto de vista, tratar-se-ia de simples refregas envolvendo um número não muito elevado de combatentes, cujas batalhas importantes e traiçoeiras ocorriam ao longo e nas grandes vias de comunicação em torno da Via de La Plata com o objectivo último da imposição da religião muçulmana a toda a Península (e não só) e a tomada do simbolo religioso cristão, por excelência: Santiago de Compostela.
Neste óptica faz todo o sentido enquadrar o escrito antigo nesta problemática da Reconquista. Há, porém, uma nuvem no horizonte. Acontece que o Reino Visigótico aderiu ao Cristianismo e existe um monumento quase único em toda a Espanha onde os Visigodos deixaram a sua marca : A Igreja de San Pedro de La Nave (próximo de Zamora, Aliste). A marca das rosáceas encontradas nas lápides em São Miguel também  estão registadas na pedra em San Pedro de La Nave. Será que a Capela poderá apontar para a influência visigótica - Sec VII? Embora não sustente esta hipótese, não me parece também descartável.

domingo, 11 de setembro de 2011

Capela de São Miguel - Ecos longínquos

Capela de São Miguel_Arcanjo - I

A capela de São Miguel (Arcanjo)  faz parte do património cultural da povoação de Angueira, dificilmente separando lenda e realidade. A tradição oral nem sempre regista factos reais, mas permite perscrutar, no tempo, os ecos longínquos de acontecimentos ocorridos num passado remoto. O lugar em si - Prado de São Miguel - transporta este lugar a um patamar elevado, de religiosidade, de respeito e memória colectiva local, que roça o antigo conceito de santuário para os povos primitivos, muito anteriores ao surgimento das nações ou da fé cristã. Todos estes ingredientes andam aqui associados. A abordagem deste tema visa a separação, pelo menos parcial, entre lenda e realidade, no que a esta pequena mas valiosa capela concerne. É desconhecida a data exacta da sua fundação e, do que se conhece, a informação chega distorcida ou falseada. Refere-se frequentemente o ilustre bragançano Abade de Baçal, sem todavia se analisar a fonte de informação em que fundamentou a provável existência de um general sepultado na entrada desta  Capela. Vamos procurar contribuir para uma melhor compreensão deste assunto, começando por rever o livro Notas Monográficas de Vimioso de Frabcisco Manuel Alves (Abade de Baçal) e Adrião Martins Amado, E#d. Coimbra (1968). Em notas de rodapé, estão indicadas todas as fontes escritas, consultradas.Nele se faz alusão a um general (de nome desconhecido) que estaria sepultado no adro da citada Capela. Não é claro se o Abade de Baçal teria estado em Angueira ou não (mas deve constar dos seus apontamentos, por certo). Os dados constantes sobre Angueira foram recolhidos provavelmente por um seu colaborador - Padre/(Dr.)  Amado com ligações pessoais à família da Professora Primária da época, responsável pelo ensino e aprendizagem das primeiras letras pela maioria dos nossos conterrâneos (e quiçá do próprio que rabisca este texto).
Intrigado pelo facto do ilustre Abade deBaçal referir este general, com tal detalhe, leva à questão:" Como pode ter chegado a tal conclusão?". A resposta, que para um historiador seria trivial, reside num livro muito conhecido e antigo - " Corografia portugueza e descripçam topográfica do famoso reyno de Portugal,1706-1712, P. Luis Cardoso". Para evitar todo e qualquer tipo de deturpação da informação, transcreve-se as páginas onde Angueira é descrita e que permitem o contraste com os escritos do cunho pessoal do Abade de Baçal , a saber

Pag.1 -Descrição da Serra de Angueira/Angueira

Pag.2 - Descrição da história de Angueira .
É este texto que terá constituído a base da informação em que se apoiou o Abade de Baçal.
 Todavia, à luz de novos factos e do conhecimento actual, este texto é bastante limitado em termos científicos, nomeadamente orográficos, e em si também denota como a informação compilada para o livro foi conseguida (inquéritos). Como pano de fundo, a informação foi veiculado pelos homens mais cultos dos lugares (curas) e merecem confiança no que respeita a lendas e tradições antigas, embora sejam limitadas em termos de verdade última de acontecimentos passados. Por exemplo, a descrição da Serra de Angueira é bastante limitada em termos de precisão geográfica, mas indica claramente a sua fauna, especificando todos os animais de caça grossa.
 Sobre a história passada de Angueira tem como limite os"Mouros" para designar povos anteriores e associa a construção dos castros aos Mouros, que se sabe não ser verdade. Portanto, é necessário lêr criticamente todo o texto. Nele se refere, também que Angueira pertencia (à epoca) ao Bispado de Miranda do Douro. Mas este foi criado, politicamente, para combater a demasiada influência de Braga. A política não foi inventada hoje, sempre esteve presente em toda a actividade humana.
Este documento é, todavia, de uma grande importância, já que refere ecos longinguos de batalhas travadas anteriormente, regista os locais de combate, assinalados por grandes cruzes (excepto a de Cruz Branca referida). Lamentávelmente, não houve até agora um estudante/s de história que pegasse neste tema (e que seja do nosso conhecimento).
Vamos prosseguir a análise deste documento, em artigos que se seguirão. É necessário, para uma melhor compreensão desta Capela e de toda a sua envolvente: batalhas, povoado medieval,origem das procissões religiosas, e uma infinidade de questões mal resolvidas e explicadas.È este o fundamento para se reclamar a protecção do seu espaço natural por parte da C.M. de Vimioso.

Conclusão:  É indicada a fonte e a descrição original da Capela de São Miguel (Arcanjo). Manifestamente, a sua fundação está associada a acontecimentos guerreiros entre cristãos e mouros, que quiçá aponta para o período da Reconquista. Porém, existem factos inexplicados quanto à data da construção original (primitiva).A Capela actual não reflecte a natureza original, certamente modesta, como resultado da invasão bárbara do betão e do cimento. A sua história declinou por incúria dos homens, da premente necessidade de novos campos de cultura (justificável) e da avidez intolerante da possesão privada, não respeitando sequer as memórias colectivas dos seus mais proeminentes membros. A C.M. de Vimioso dormiu, deixando a gestão de um valioso património em roda livre. Assim estámos. 
Aplaude-se vivamente, porém, a iniciativa actual da reactivação das festividades, complementadas com as medidas necessárias e imperativas de reactivação da Capela ao seu antigo esplendor: devolução/compra de terrenos contíguos à Capela e sujeitos a toda a devassa, bem como a indagação do destino de achados recentes.
Dado que este texto já é demasiado longo (os bit e os byte também contam),  deixaremos para a próxima oportunidade a nossa interpretação do enquadramento político-militar e religioso em que teria sido construída. Como nota final, note-se que há  sob a designação:"ANG" algumas descrições de Angueira.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Fíbulas de Angueira -Tentativa de enquadramento cronológico.

Este texto pretende, em primeiro lugar, dar a conhecer e registar o património material e imaterial de Angueira. Não se afigura fácil, na medida em que os próprios artefactos registados tal como a Fíbula de ponte descrita em texto anterior carecem de um estudo aprofundado, em termos cronológicos, de caracterização dos elementos metálicos que a compoem e, enfim, a sua tipologia. Porém, estas dificuldades  são comuns neste domínio. Invariavelmente, a resposta a esta e outras questões aponta para um estudo exaustivo em termos arqueológicos de todo o monte da Cocolha, e sem qualquer tipo de ambiguidades, feito por peritos na matéria.  O IGESPAR reconhece a existência desse património, refere nomeadamente o Monte da Cocolha (sob o nr.de registo CNS -4590, tipo  Povoado Fortificado, Estado de conservação: Mau).  A informação indicada não estará completa, e torna-se necessário rever a literatura indicada neste registo do IGESPAR, bem como certos aspectos recentes da florestação no local.
Na ausência de perspectivas de exploração arqueológica imediata, resta um estudo comparado das fíbulas encontradas em castros da região (Espanha e Portugal). Fundamentada esta orientação, vamos descrever em termos sintéticos o estádio da descrição de fíbulas por peritos vários. O assunto é matéria de controvérsia acesa entre estes peritos, e as conclusões contraditórias entre si. Por isso, a nossa própria análise não está isenta de erro, e portanto, só poderá  valer como evidência relativa, e como conhecimento fornecido aos conterrâneos da existência e localização actual do seu património.
Fig.1-Fíbula de ponte encontrada na Cocolha(Angueira)

Seguindo a  trajectória da Fíbula de Ponte convenientemente descrita (J. Fortes) e cuja foto está inserida no texto anterior e no presente, levou-nos a uma visita efectuada ao Museu Abade de Baçal, local de exposição permanente. Ora a nota descritiva dos artefactos - fíbulas expostas refere "Fíbulas do Castro da Cocolha", ou seja plural, o que significa que existem duas (ou mais) e não uma fíbula. H, portanto, necessidade de esclarecer este pormenor. O panorama muda se existir na mesma fíbula , o metal ferro e o bronze. Além do mais não estão convenientemente referenciadas na vitrine de exposição (V.Fig.1).Este simples registo, permite dar uma aproximação significativa, em termos cronológicos e de tipologia. Em geral, dá-se como aceite que o Castro da Cocolha pertenceria ao povo dos Zoelas, mas este facto não contradiz a flutuante zona de influência e  intercâmbio cultural e comercial, característica de zonas limitrofes de fronteira.
Feito este pre-âmbulo, remetemos para os extensos escritos de Armando Coelho  F.S., e seus colaboradores sobre este tema e outros afins.
A fíbula é um artefacto, de uso pessoal e carácter decorativo, e em certa medida um carácter distintivo de quem o utiliza. Permite inferir dados  sobre a comunidade que os utilizou e/ou os produziu ou comercializou. A fíbula em causa é descrita como do tipo transmontano. Se foi produzida ou não no Castro da Cocolha depende da informação complementar que certamente ainda permanece escondida no Castro da Cocolha. Estranha-se o posicionamento do Igespar,admitindo omo facto consumado a degradação recente do seu perímetro, e não impondo regras claras para a sua manutenção, ao menos, no seu estado actual. Joga-se também o interesse das populações em termos económicos. Tal como os romanos aí interferiram, não foi à procura de produtos resultantes da comercialização da pastorícia, mas dos metais de mais valor acrescentado. Ora o interesse actual, aponta para a conservação do património histórico e cultural como um dos factores de desenvolvimento. Mais quatro pinheiros plantados nada resolve, e além do mais, os pinheiros actuais não têm sequer saída comercial. Sobre este aspecto, estámos conversados: Estado de conservação: Mau! Péssimo, diria, qualquer um!
J.Fortes (1904) emitiu ã opinião que as fibulas do tipo "transmontano, de largo travessão" dificilmente se poderiam classificar como anteriores ao periodo da romanização. Segundo este autor, estas fíbulas poderiam ser datadas dos Sec.I e II da nossa era. Porém, esta opinião não é partilhada por outros autores, e a data poderá varrer o período de IV Sec.(AC) até o Sec. II, (D.C.). A. Coelho parece apontar para o Sec.II (A.C.), 138 anos (A.C.) - associada de algum modo à campanha militar de Décimo Júnio Bruto na Península, ideia partilhada por J. Fortes num caso específico, e que poderia resultar de um processo de comercialização.  Esta fíbula foi também objecto de estudo de caracterização metálica (%Cobre (Cu), %-Chumbo(Pb); %Estanho (Sn)) de Salete da Ponte M. A nossa perspectiva não está voltada, nesta fase, para esta controvérsia, mas tão somente, indagar onde para o património histórico de Angueira. 
O eventual achado de moedas no local poderia contribuir para o esclarecimento desta e doutras questões, mas isso só se conseguirá através de escavações orientadas no local, sob responsabilidade directa de autoridades competentes na matéria.
Refere-se, de modo recorrente, ao achado de moedas no local ,até pelo Igespar. Tal como fizemos até aqui, vamos tentar localizar o seu paradeiro. Cremos, que serão mais as vozes que as nozes.

Conclusão: A fíbula referida permite confirmar que já nos distantes anos dos Sec. I e II (A.C.) existiria uma certa diferenciação da comunidade local, em termos de classe social, e já se estaria longe do primitivo igualitarismo de uma comunidade agro-pastoril. A certeza, pelos vestígios abundantes, de escórias de ferro levanta uma questão sobre o grau de desenvolvimento dessa mesma comunidade. A recorrente e sistemática  delapição do património aponta para os já longínquos anos do fim do Sec. XIX e início do Sec.XX (1900), onde a febre da procura do "minério" da Cocolha começou e de que há registo. Áparte o propalado achado (mas nunca confirmado, por via directa ou indirecta), do célebre objecto de ouro não consta que alguém tenha enriquecido por esta via, por oposição ao trabalho  árduo e constante, ao longo dos anos.
Este texto não tem carácter definito e absoluto, pelo que está aberto a todas as sugestões e críticas (via comentário).

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O passado pre-romano do Castro da Cocolha ...

O Castro da Cocolha tem os seus segredos que o tempo caprichosamente esconde. Não tendo uma apresentação demasiado apelativa e cativante, não impede todavia de interrogar o seu passado. Castros similares, construídos em tempos proto-históricos, permitem lançar alguma luz. Existem livros de referência que permitem balizar tempos antigos (V.g. Portugal Romano, de J.Alarcão; Portugal- das Origens à Romanização (Nova História de Portugal (Vol.1) J.Alarcão et al.) e uma pleiade de académicos que têm dedicado o seu esforço e vida ao estudo destas questões. Como tudo na vida, há progressos, mas não há uma  chegada conclusiva à descrição  fidedigna desses tempos remotos. É neste contexto que temos de nos mover. Os sítios arqueológicos referenciados em Angueira são descritos deste modo:

1 - Cabeço da Cocolha
Localização: Cocolha, Angueira
Descrição: povoado fortificado assente em esporão, com sistema defensivo composto por duas linhas de muralha concêntricas. Vestígios evidentes de romanização, incluindo epígrafes, e de ocupação alti-medieval.
2 - Castro do Gago
Localização: Gago, Angueira
Descrição: povoado fortificado implantado num esporão, defendido por uma linha de muralha de perímetro subcircular.
3 - Araúja:
Localização: Araúja, Angueira
Descrição: provável necrópole relacionada com a fase de ocupação romana do Castro da Cocolha.
4 - S. Miguel
Localização: São Miguel, Angueira
Descrição: povoado romano e medieval instalado nas vertentes suaves de um vale, sendo observáveis cerâmicas de construção e de uso doméstico das duas épocas, bem como vestígios associáveis às respectivas necrópoles, nomeadamente epígrafes.

Relativamente ao que já se escreveu,confirma-se a existência de muralhas defensivas no Castro da Cocolha por esta outra via, o que adensa a certeza. Será lógico admitir que, quem escreveu as linhas transcritas em 1 e 2 terá conhecimento da sua localização, mas este facto deve apenas ser conhecido de alguns deuses. Quanto ao Castro do Gago, confirma-se o texto, já que a muralha é perfeitamente visível. Há um problema de base que consiste na sua datação aproximada. Talvez, a única coisa que tenha sentido, por ora, é admitir que  o do Gago é anterior ao da Cocolha.
Um dos expoentes máximos da cultura castreja é o Castro de Sanfins (Paços de Ferreira), a par com a Citânea de Briteiros.

Fig.1 - Citânea de Sanfins
 A boa visibidade de qualquer castro é uma das caracteristícas básicas. Ora o da Cocolha tem por horizontes longinquos, por um lado a Serra de Nogueira (Bragança) e, por outro , os chamados "Cimos do Mogadouro". Há referências de possíveis comunicações entre os castros, admitindo-se o controlo do fumo como elemento fácil de comunicação. As mensagens poderiam ser facilmente enviadas e recebidas. Esta observação é importante, já que permite, de certo modo admitir que o Castro da Cocolha pertenceria a  uma zona geográfica única. Faz parte do noroeste oriental transmonstano, e faz parte da zona do Planalto Mirandês. Este Planalto é limitado pelos rios Douro e Sabor, correndo em depressões profundas (equivalente aos canyon americanos).  Há controvérsia sobre a abrangência territorial de Trás-os-Montes e da limitação das  partes: Terra Quente e Terra Fria. A estes factos, há ainda que juntar o desconhecimento do clima em toda a área, nos tempos proto-históricos de que estamos a falar. São tempos muito anteriores à Nacionalidade e, claro faz naturalmente parte da antiga Ibéria ou Celtibéria, onde apenas as fronteiras naturais contam e as fronteiras políticas ainda não existiam.  O achado de estelas romanas similares na zona planáltica mirandesa, permite com certo grau de probabilidade enquadrar o Castro da Cocolha nesta sub-zona da Terra Fria transmontana (Planalto Mirandês). Os estudos arqueológicos tem sido essencialmente dirigidos para a parte Centro e Sul do Portugal actual. Até que ponto a parte Norte  teve contacto com o Sul (abaixo do Douro) é controverso. Os estudos arqueológicos recentes do Norte do país actual (Minho,Trás-os-Montes, Alto Douro) enquadram-se no que se designa por "Noroeste Peninsular", abrangendo não só as regiões portuguesas referidas mas também a região da Galiza e região Cantábrica. Porém, estas regiões apresentam certas especificidades comuns, embora outras sejam irreconciliáveis. Há todavia, no período em causa, uma tipificação de um certo modo de vida e que é materializado na descrição da" Cultura Castreja do Noroeste Peninsular". Os casos mais representativos são o da : Citânea de Briteiros e   de Sanfins, referidos. O Castro de Santa Tegra está localizado na Galiza. A foto aérea acima (Fig.1) permite ver o grau de organização, a estrutura social e , através dos artefactos achados nas habitações, o seu grau de desenvolvimento tecnológico. Este  aspecto não deve ser  de todo menosprezado. É o modelo de  estrutura social que prevalece nos castros do dito Noroeste Peninsular, tendo sido contabilizados cerca de 7000. O interessante da questão é que, a estrutura social de pequenos castros (tal como o da Cocolha) é aparentemente muito semelhante, descontadas as especificidades de cada um. Em geral, os castros progrediam ao longo do curso dos rios. Em particular, a Cocolha é um dos existentes no rio Angueira:, quase todos de caracteristicas similares ( Gago, Algoso, São Martinho, Alcanices) ou de rios próximos (Santulhão).
A romanização do Castro da Cocolha está bem patente nos artefactos cerâmicos, metálicos e nas estelas, trazidos à luz do dia sobretudo no início do século XX (1900). Ora, se o Castro já era habitado antes da chegada dos Romanos, levanta-se a questão de saber como lá chegaram e quais os seus próprios antepassados. Tentar explicar, sem floreados ou mero palpite, é imperativo. Não existe resposta definitiva, e temos mais uma vez de invocar os conhecimentos arqueológicas estabelecidos para o Planalto Mirandês, não esquecendo as hipóteses discutidas por J. Alarcão para o aparecimento da Cultura Castreja no Noroeste Peninsular.
 Em torno de Angueira, existem dois casos conhecidos de monumentos sepulcrais: a existência de tumulli (sepultura individual ou colectiva). São conhecidas por mamoas da Marmolina (aldeia de Malhadas) e da Campina (Genísio). Aponta-se como época provável o periodo corresponte ao Neolítico Final-Calcolítico (ou seja transição dos artefactos de pedrapolida  para o cobre). A juntar a estas duas (ambas muito degradadas) existem outras mamoas no distrito de Bragança. As mais estudadadas mamoas,abaixo indicadas, foram datadas com recursos a datação pelo método do carbono C14. São elas :
  • Mamoa 3 de Pena Mosqueira (Mogadouro) : datação : 2980 anos (A.C.)
  • Barrocal Alto (1º.ocupação) : datação : (3010+/-75 ) anos (A.C.)
  • Barrocal Alto (2ª.ocupação): datação : (2450+/-45 ) anos (A.C.)
De acordo com o estudo e o suposto povoado,  as datas indicadas apontam para as primeiras comunidades neolíticas, os períodos correspondentes ao final do IV - Milenio (A.C) e o início do III (A.C.) . Para o mesmo período, parece haver dois tipos de assentamento: um habitat em terreno mais ou menos plano,com um alcance visual limitado por colinas, e um outro de pequenos assentamentos em esporões de rios em montanhas de altura média. Parece não diferirem grandemente, sendo a vida comunitária orientada para o principal tipo de actividade. As zonas planas (hoje ocupadas por zonas de produção de cereais (sequeiro) ocupariam as zonas potencialmente mais produtivas, de melhor aptidão agrícola. Os povoados seriam potencialmente mais expostos ao exterior e a perigos imprevistos.  A contemporaneidade carece também de ser estabelecida.
Os resultados não podem ser extrapolados tout court, mas permitem estabelecer com certa fiabilidade a o periodo de implantação dos primeiros habitantes na região. Porém como cada caso é um caso, há castros como o de Aldeia Nova (Miranda do Douro) em que os artefactos encontrados permitem reportar também o seu povoamento continuado desde o final da Idade do Bronze, passando pela Idade do Ferro e  período mais  recente da romanização.
O desenvolvimento de centros proto-urbanos, de média dimensão, e da comercialização de alguns minérios deu azo ao aparecimento do poder político. Uma descrição mais pormenorizada pode vêr-se nas referências indicadas. Estes povoados já são muito distintos das pequenas comunidades , dispersas, e de matriz agro-pastoril. Em geral, as necrópoles destas citâneas privilegiam o carácter individual da sepultura, enaltecendo a a heroicidade dos seus chefes guerreiros. As pequenas comunidades dispersas atingiram o seu pleno desenvolvimento com a utilização do bronze, rompendo claramente com o modelo gregário de caçador-recolector, e na estrutura social baseada em torno das práticas agrícolas e cerealíferas e da produção de animais.
Em voo de pássaro, nos finais do 2º.milénio (A.C.) o domínio e conhecimento da metalurgia de ferro veio alterar radicalmente o mundo mediterrânico e europeu. Atribui-se uma influência mediterrânica à parte centro e sul do País, veiculada pelo Mediterrâne, e uma influência mais continental (meseta ibérica) ou europeia à parte do Noroeste Oriental (Planalto Mirandês).
Como texto já vai longo. continuar-se-à a descrição mais tarde. Gravitará em torno de objectos reais encontrados no Castro da Cocolha, nomeadamente a fíbula representada na Fig.2.



Fig.2 - Fíbula de bronze do Castro da Cocolha.
 Conclusão: Antes da chegada dos romanos já o Castro tinha um passado largo. Os artefactos lá encontrados  permitem avançar um pequeno passo na descrição do seu habitat.

sábado, 9 de julho de 2011

Ecos longínquos do Castro da Cocolha...

O presente texto pretende lançar alguma luz sobre a vida deste Castro na época pré-romana. O Castro da Cocolha é, apenas, um dos muitos castros existentes espalhados pelo território ibérico limitrofe. Não tem especificidade suficiente para se autonomizar, perante castros vizinhos coevos, e portanto só podemos modelizar o castro perante outros conhecidos, melhor conservados e estudados. Adoptamos a posição plausível, da pertença deste Castro, tal como os da  zona leonesa, a povos descritos pelos autores clássicos como povos astures. Do ponto de vista arqueológico, pertencem ao arco castrenho do noroeste peninsular, com eles partilhando provavelmente as mesmas formas de vida ,crença e cultos. A visão integrada dos castros estudados, da parte leonesa, permitirá estabelecer um mínimo da descrição básica do castro da Cocolha.
Em primeiro lugar, deverá cumprir as várias condicionantes para a implantação e assentamento de um castro estável:

  • Localização num ponto elevado
  • Existência de muro(s) artificiais de defesa
  • Existência de fossos 
  • Dimensões médias que podiam albergar grupos de 100 a 200 pessoas
  • Posição estratégica nos altos, permitindo uma visão extensa de território.
No estado actual, alguns destes elementos podem ser confirmados. Relativamente ao primeiro, a resposta é trivial. No que toca à existência de muro(s) artificial, também é verificada. Esta informação resulta de  comunicação directa, não existindo motivo para que tal informação não seja fidedigna. Conhecida a existência desse muro, pode inferir-se a possível localização do fosso. Através da dimensão de castros estudados e do seu habitat é possível prever o número de habitantes. A boa visibidade, a existência de zonas de pastoreio e cultivo, a proximidade de bosques e a abundância de água tornavam este castro de certo modo apetecível para castros vizinhos. A pilhagem, o roubo e o saque era frequente nestas épocas.
Uma comunicação directa, veio revelar uma observação curiosa: a existência de uma habitação circular localizada relativamente próxima da localização do sobreiro actual. Esta tem um significado especial, pois permite avançar mais um pequeno passo e, de certo modo, suportar a ideia de que efectivamente se trata de um castro pre-romano , embora depois continuasse ocupado durante a ocupação romana.
Não raro, a actividade dos castros se localiza junto de material necessário à produção tecnologica :cerâmica e produção de utensílios de ferro, na sequência dos objectos de cobre.
 O castro formava, à epoca pre-romana, a unidade básica do povoamento do território do norte peninsular (ou em sentido restrito) do nordeste peninsular. Este período é conhecido como época do Ferro-2. Encontravam-se isolados, de distância variável entre eles, e constituiam unidades independentes e auto-suficientes. Não se exclui, a existência de contactos externos entre eles envolvendo laços familiares.
O Castro da Cocolha levanta várias questões de difícil resposta. Afinal, estamos confrontados com três assentamentos distintos no actual território de Angueira: Castro do Gago, Cocolha e actual Angueira. Há várias hipóteses que poderiam ter ocorrido. Qual o destino final do Castro do Gago? Pode pensar-se em extinçao natural, pura e simples, em destruição violenta por qualquer castro vizinho, ou deslocamento pensado para uma nova localização (Cocolha) mais favorável. Aliás, a acual localização do povoado é, também ele, muito estranho já que assenta na sua quase totalidade (exceptuando parte de Sayago) em rocha de xisto.A Capela do S. Cristo é disso, apenas, um exemplo. Há casas talhadas em plena rocha. Não se pode excluir, a hipótese da troca dos papéis entre Cocolha e povoado actual, na época pré-romana (segurança na Cocolha, pastoreio no Vale).
A investigaçao das sociedades primitivas, indigenas, apresenta problemas de monta.

  • As fontes históricas dos autores clássicos reportam diferentes épocas, não estabelecendo o periodo exacto em que a descrição era feito. Por vezes, constituia um relato do grau de assimilação do modelo romano pelos habitantes.
  • Raramente se pode especificar a zona limite dos castros com cultura comum (descrição dos povos)
  • Cada castro, constitui um caso e, portanto, é quase modelo único moldado pelas condicionantes da sua formação.
Então, a tentativa de descrição do Castro tem que basear-se em factos, artifícios e objectos  que permitam suportar essa descrição e tornar a hipótese plausível. Sobre este Castro da Cocolh ,já existem alguns factos sólidos . A existência da casa circular permite simular a sua tipologia e, se não como registo fotográfico, relativamente próximo da realidade. Ainda é necessário consolidar este facto, através de pessoas que o possam confirmar (rarissimas, mas possível). Além do mais, regista-se a obsevação directa no local de material típico de material de trituração de cereais. A representação aproximada, pode verificar-se nas imagens abaixo.



Fig.1 -Modelo típico de uma casa castreja.

Esta imagem poe em evidencia a sua estrutura básica: geometria circular de pedra solta, uma só entrada, telhado de colmo ou arbustos, sustentado por uma haste de madeira partindo do seu centro. Nesta haste iam entroncar as vigas  de madeira que ficavam apoiadas na parede circular. A protecçao da entrada da casa poderia existir ou não. A extrapolação de modelos de casa estudados não é válida, daí só tomar como plausível este modelo para a descrição oral descrita acima. Mesmo esta vai ter que ser submetida às lembranças distantes do conterrâneo. Todavia, considera-se como altamente provável esta geometria. Em geral, tinham um diâmetro da ordem de 3,5 m, funcionava como cozinha e descanso e constituia essencialmente a parte associada à família constituída em média por 3/4 individuos. A geometria circular não é exclusiva, aparecendo noutros castros estudados este elemento circular associado a um celeiro (de melhor construção), e um anexo com ligações (curral).


Fig.2 - Modelo de moinho manual
Modelos deste tipo podiam ser observados por qualquer um, em tempos não muito distantes.
A arqueologia, a toponimia (geografia), epigrafia (escrita) e a onomástica(nomes) permitem um grande avanço mas continuam muitos problemas em aberto, não permitindo caracterizar etnica e culturalmente um povoado.Já referimos que que a localização de Angueira fica no vértice da confluencia de vários povos e, portanto, será licito admitir que terá recebido a influência de alguns/muitos  deles. Um muito importante, relacionado ou não com os castros tem a ver com o aparecimento de berrões (porca de Murça, como elemento representativo) em aldeias próximas (Parada, em Portugal; porca -Bragança,Metallanes (touro)-Alcanices, entre outros). Os berrões tiveram uma grande expressão em zonas de Espanha e também de Portugal. .Mas esta questão é outro enigma, não abordado por agora.Não é portanto de excluir o seu aparecimento, num qualquer dia pardacento e acaso da sorte.
Este povoado, embora primitivo, cria já no além e adorava os seus deuses. Enterrava os seus mortos. Creio que foi este o objectivo principal da visita de J.L.Vasconcelos em 1902. Andava certamente à procura da cultura celta, e dos deuses. Em termos de simbologia, a rosácea  figura na estela granítica e nas demais encontradas próximas do local da Cocolha , levando a supor a origem celta deste povoado. A juntar, às provas comprovatórias sólidas pode juntar-se o conjunto de estelas com a presença das rosáceas. Este elemento símbólico tem perdurado ao longo dos tempos, por vezes suportado por organizações emblemáticas como os Templários entre outras.