A fundação da Capela de São Miguel (Angueira) perde-se na bruma dos tempos. A historiografia da região do Noroeste Peninsular, desde a época romana até ao Séc. XI-XII tem tantas lacunas que não poderá haver certezas quanto à data da sua fundação. Portanto, a nossa visão sobre a Capela de São Miguel tem que se apoiar sobre várias premissas e sugestões, nem sempre de fácil validação. É, todavia, este desafio que nos estimula na abordagem deste tema, e onde não há certezas, há sempre a possibilidade de discutir hipóteses plausíveis e fundamentadas.
O Abade de Baçal, homem culto e letrado, admite como plausível a hipótese da existência do referido general, não fazendo porém um enquadramento histórico possível dos acontecimentos em que foi líder militar. É sugerido um enquadramento político-militar, envolvendo batalhas entre cristãos e mouros. Ora isto poderá significar o lato período da Reconquista, não só o período de ascendência do reino cristão do Norte bem como o período posterior da manutenção baseado em ordens religioso-militares como os Templários. Há dois conflitos evidentes: A fundação da Capela não significa necessáriamente a data em que teria ocorrido a batalha e, portanto, ser contemporânea do general em causa e a explicação do aparecimento da lápide (assente no jardim de Angueira) que, segundo a minha opinião está no local errado (Vale de São Miguel) dado que aparecem as letras "D.M.", de natureza manifestamente romana, não cristâ. Existe a possível explicação da sua anteriormente reutilização, tendo sido transportado da Cocolha para o Vale de São Miguel. É uma operação, conhecida e frequente.
Nada impede,também, que não caia na plausível época da reconquista. Não é de excluir liminarmente a eventual fundação no periodo visigótico-cristão.
Antes do mais discute-se se esta região, tal como a de Aliste, pertenceu à zona de influência dos Astures ou dos Vaceus. De qualquer modo, os rios de capital importância são: o Douro e o Esla. Para fixar ideias, refere-se as datas importantes da Romanização da zona particular de Angueira (contígua a Aliste) e que nos permite também esclarecer a influência do poder religioso nesta região. A penetração dos Romanos nesta área anda associada às campanhas bélicas de Roma contra a Península e da procura intensa de metais preciosos (ouro e prata) que faziam, na época, da Peninsula Ibérica o maior produtor. Admitindo o rio Esla como limite ocidental, Aliste e a zona de Angueira estaria associada aos Astures e não aos Vaceus. A divisão administrativa de Augusto, cerca do ano 27 (A.C.), pertencia à Espanha Citerior ou Tarraconense, no convento jurídico de Asturica. É desta época a Tessera das gentes dos Zoelas, actualmente em exposição no museu Abade de Baçal-em Bragança. Daqui decorre a importância histórica de Astorga, para esta região. Os Astures resistiram e deram luta tenaz e persistente aos Romanos, obrigando-os a fazer dois assentamentos militares para a manutenção da paz na região (Legião VI Vitrix -perto de Braga, Legião X Gemina em Astorga e pouco depois em Rosinos de Vidriales (Zamora). Esta região funcionava como zona tampão para os Astures, garantia o acesso às zonas auriferas, funcionava como via alternativa da circulação militar e servia de recrutamento de tropas auxiliares nativas.
A implantação da Capela de São Miguel prende-se, então, como uma consequência lógica de uma zona de aparente bom entendimento entre Romanos intrusos e nativos, permitindo estes um certo entendimento e fácil passagem da circulação militar. Refere-se o caminho mourisco, ligando Rabanales ao Planalto Mirandês com passagem perto de Constantim. Ora é fácil mostrar que este caminho admite alternativas, com particular focagem numa possível passagem por Angueira, em direcção ao Planalto Mirandês. Só que cada um vai puxando a brasa à sua sardinha. Embora o Castro da Cocolha tenha sofrido uma degradação brutal ao longo dos tempos, ainda é possível observar escórias de ferro por todo o lado, e que poderão estar associadas (ou não) a certas infra-estruturas requeridas para o transporte de bens, gente e circulação militar. A via principal Braga-Chaves-Astorga andava associada a várias vias secundárias entre elas a derivante Bragança-Babe-Rabanales... Astorga.
A zona de Aliste e o Planalto Mirandês permitia ter acesso a Lamego (Lamecum), bordejando o Douro com relativa segurança.
Com a derrocada do império romano ocidental, o poder político desta zona passou para o Reino Suevo com capital em Braga (409-429) e que culminou com a vitória dos Visigodos que fizeram de Toledo a sua capital, sendo incorporada por Leovigildo cerca do ano 585. A invasão muçulmana ocorreu no ano 711, tendo o lider berbere Tariq vencido o Rei D. Rodrigo na batalha de Guadalete. Nesta altura, Bragança e a zona fronteiriça de Aliste navegavam debaixo das mesmas bandeiras e das mesmas espadas afiadas, ou quase, até ao aparecimento da separação das zonas de influência politico-religiosa e definição de fronteiras. Aliste esteve sob jurisdição ora de Braga ora de Astorga. Com o nascimento do Condado Portucalense e a liderança de Dona Teresa, casada com Henrique da Borgonha (françês), e filha de Afonso VI, Aliste viria a ser reivindicada como parte integrante da herança de seu pai. Viria a conseguir esta pretensão em 1125, com o apoio e ajuda do Arcebispo de Santiago de Compostela. Nos Séculos IX e X, Astorga reclamou este território, aproveitando-se da devastação de toda a zona de Braga.
Conclusão : A implantação da Capela de Sâo Miguel deriva, de modo indirecto, da importância estratégica atribuida pelos romanos a esta zona, por estar perto das vias principais de acesso militar à Peninsula Ibérica. É, na verdade uma zona periférica, mas foi em torno deessas vias que iriam desenrolar-se acontecimentos históricos importantes. Foram, também, estas vias utilizadas pelos exércitos muçulmanos para a invasão da hispania. As datas apontam para 718, como o ano de eleição de Pelayo e a derrota dos Muçulmanos em Covadonga em 722. A provincia de Zamora e Bragança só será recuperada muito tempo depois, tendo a Reconquista sido completada por Afonso III. Este reinado durou de 866 a 910. A zona de separação bem definida entre Cristãos e Mouros estava por esta altura enquadrada pelos rios Douro e Minho, em toda a sua extensão, com enclaves até Coimbra. As refregas e batalhas eram, na época recorrentes e é, neste contexto, que se cita no texto antigo a referência a uma batalha liderada por um grande general. Do meu ponto de vista, tratar-se-ia de simples refregas envolvendo um número não muito elevado de combatentes, cujas batalhas importantes e traiçoeiras ocorriam ao longo e nas grandes vias de comunicação em torno da Via de La Plata com o objectivo último da imposição da religião muçulmana a toda a Península (e não só) e a tomada do simbolo religioso cristão, por excelência: Santiago de Compostela.
Neste óptica faz todo o sentido enquadrar o escrito antigo nesta problemática da Reconquista. Há, porém, uma nuvem no horizonte. Acontece que o Reino Visigótico aderiu ao Cristianismo e existe um monumento quase único em toda a Espanha onde os Visigodos deixaram a sua marca : A Igreja de San Pedro de La Nave (próximo de Zamora, Aliste). A marca das rosáceas encontradas nas lápides em São Miguel também estão registadas na pedra em San Pedro de La Nave. Será que a Capela poderá apontar para a influência visigótica - Sec VII? Embora não sustente esta hipótese, não me parece também descartável.
O Abade de Baçal, homem culto e letrado, admite como plausível a hipótese da existência do referido general, não fazendo porém um enquadramento histórico possível dos acontecimentos em que foi líder militar. É sugerido um enquadramento político-militar, envolvendo batalhas entre cristãos e mouros. Ora isto poderá significar o lato período da Reconquista, não só o período de ascendência do reino cristão do Norte bem como o período posterior da manutenção baseado em ordens religioso-militares como os Templários. Há dois conflitos evidentes: A fundação da Capela não significa necessáriamente a data em que teria ocorrido a batalha e, portanto, ser contemporânea do general em causa e a explicação do aparecimento da lápide (assente no jardim de Angueira) que, segundo a minha opinião está no local errado (Vale de São Miguel) dado que aparecem as letras "D.M.", de natureza manifestamente romana, não cristâ. Existe a possível explicação da sua anteriormente reutilização, tendo sido transportado da Cocolha para o Vale de São Miguel. É uma operação, conhecida e frequente.
Nada impede,também, que não caia na plausível época da reconquista. Não é de excluir liminarmente a eventual fundação no periodo visigótico-cristão.
Antes do mais discute-se se esta região, tal como a de Aliste, pertenceu à zona de influência dos Astures ou dos Vaceus. De qualquer modo, os rios de capital importância são: o Douro e o Esla. Para fixar ideias, refere-se as datas importantes da Romanização da zona particular de Angueira (contígua a Aliste) e que nos permite também esclarecer a influência do poder religioso nesta região. A penetração dos Romanos nesta área anda associada às campanhas bélicas de Roma contra a Península e da procura intensa de metais preciosos (ouro e prata) que faziam, na época, da Peninsula Ibérica o maior produtor. Admitindo o rio Esla como limite ocidental, Aliste e a zona de Angueira estaria associada aos Astures e não aos Vaceus. A divisão administrativa de Augusto, cerca do ano 27 (A.C.), pertencia à Espanha Citerior ou Tarraconense, no convento jurídico de Asturica. É desta época a Tessera das gentes dos Zoelas, actualmente em exposição no museu Abade de Baçal-em Bragança. Daqui decorre a importância histórica de Astorga, para esta região. Os Astures resistiram e deram luta tenaz e persistente aos Romanos, obrigando-os a fazer dois assentamentos militares para a manutenção da paz na região (Legião VI Vitrix -perto de Braga, Legião X Gemina em Astorga e pouco depois em Rosinos de Vidriales (Zamora). Esta região funcionava como zona tampão para os Astures, garantia o acesso às zonas auriferas, funcionava como via alternativa da circulação militar e servia de recrutamento de tropas auxiliares nativas.
A implantação da Capela de São Miguel prende-se, então, como uma consequência lógica de uma zona de aparente bom entendimento entre Romanos intrusos e nativos, permitindo estes um certo entendimento e fácil passagem da circulação militar. Refere-se o caminho mourisco, ligando Rabanales ao Planalto Mirandês com passagem perto de Constantim. Ora é fácil mostrar que este caminho admite alternativas, com particular focagem numa possível passagem por Angueira, em direcção ao Planalto Mirandês. Só que cada um vai puxando a brasa à sua sardinha. Embora o Castro da Cocolha tenha sofrido uma degradação brutal ao longo dos tempos, ainda é possível observar escórias de ferro por todo o lado, e que poderão estar associadas (ou não) a certas infra-estruturas requeridas para o transporte de bens, gente e circulação militar. A via principal Braga-Chaves-Astorga andava associada a várias vias secundárias entre elas a derivante Bragança-Babe-Rabanales... Astorga.
A zona de Aliste e o Planalto Mirandês permitia ter acesso a Lamego (Lamecum), bordejando o Douro com relativa segurança.
Com a derrocada do império romano ocidental, o poder político desta zona passou para o Reino Suevo com capital em Braga (409-429) e que culminou com a vitória dos Visigodos que fizeram de Toledo a sua capital, sendo incorporada por Leovigildo cerca do ano 585. A invasão muçulmana ocorreu no ano 711, tendo o lider berbere Tariq vencido o Rei D. Rodrigo na batalha de Guadalete. Nesta altura, Bragança e a zona fronteiriça de Aliste navegavam debaixo das mesmas bandeiras e das mesmas espadas afiadas, ou quase, até ao aparecimento da separação das zonas de influência politico-religiosa e definição de fronteiras. Aliste esteve sob jurisdição ora de Braga ora de Astorga. Com o nascimento do Condado Portucalense e a liderança de Dona Teresa, casada com Henrique da Borgonha (françês), e filha de Afonso VI, Aliste viria a ser reivindicada como parte integrante da herança de seu pai. Viria a conseguir esta pretensão em 1125, com o apoio e ajuda do Arcebispo de Santiago de Compostela. Nos Séculos IX e X, Astorga reclamou este território, aproveitando-se da devastação de toda a zona de Braga.
Conclusão : A implantação da Capela de Sâo Miguel deriva, de modo indirecto, da importância estratégica atribuida pelos romanos a esta zona, por estar perto das vias principais de acesso militar à Peninsula Ibérica. É, na verdade uma zona periférica, mas foi em torno deessas vias que iriam desenrolar-se acontecimentos históricos importantes. Foram, também, estas vias utilizadas pelos exércitos muçulmanos para a invasão da hispania. As datas apontam para 718, como o ano de eleição de Pelayo e a derrota dos Muçulmanos em Covadonga em 722. A provincia de Zamora e Bragança só será recuperada muito tempo depois, tendo a Reconquista sido completada por Afonso III. Este reinado durou de 866 a 910. A zona de separação bem definida entre Cristãos e Mouros estava por esta altura enquadrada pelos rios Douro e Minho, em toda a sua extensão, com enclaves até Coimbra. As refregas e batalhas eram, na época recorrentes e é, neste contexto, que se cita no texto antigo a referência a uma batalha liderada por um grande general. Do meu ponto de vista, tratar-se-ia de simples refregas envolvendo um número não muito elevado de combatentes, cujas batalhas importantes e traiçoeiras ocorriam ao longo e nas grandes vias de comunicação em torno da Via de La Plata com o objectivo último da imposição da religião muçulmana a toda a Península (e não só) e a tomada do simbolo religioso cristão, por excelência: Santiago de Compostela.
Neste óptica faz todo o sentido enquadrar o escrito antigo nesta problemática da Reconquista. Há, porém, uma nuvem no horizonte. Acontece que o Reino Visigótico aderiu ao Cristianismo e existe um monumento quase único em toda a Espanha onde os Visigodos deixaram a sua marca : A Igreja de San Pedro de La Nave (próximo de Zamora, Aliste). A marca das rosáceas encontradas nas lápides em São Miguel também estão registadas na pedra em San Pedro de La Nave. Será que a Capela poderá apontar para a influência visigótica - Sec VII? Embora não sustente esta hipótese, não me parece também descartável.
Sem comentários:
Enviar um comentário