sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Fíbulas de Angueira -Tentativa de enquadramento cronológico.

Este texto pretende, em primeiro lugar, dar a conhecer e registar o património material e imaterial de Angueira. Não se afigura fácil, na medida em que os próprios artefactos registados tal como a Fíbula de ponte descrita em texto anterior carecem de um estudo aprofundado, em termos cronológicos, de caracterização dos elementos metálicos que a compoem e, enfim, a sua tipologia. Porém, estas dificuldades  são comuns neste domínio. Invariavelmente, a resposta a esta e outras questões aponta para um estudo exaustivo em termos arqueológicos de todo o monte da Cocolha, e sem qualquer tipo de ambiguidades, feito por peritos na matéria.  O IGESPAR reconhece a existência desse património, refere nomeadamente o Monte da Cocolha (sob o nr.de registo CNS -4590, tipo  Povoado Fortificado, Estado de conservação: Mau).  A informação indicada não estará completa, e torna-se necessário rever a literatura indicada neste registo do IGESPAR, bem como certos aspectos recentes da florestação no local.
Na ausência de perspectivas de exploração arqueológica imediata, resta um estudo comparado das fíbulas encontradas em castros da região (Espanha e Portugal). Fundamentada esta orientação, vamos descrever em termos sintéticos o estádio da descrição de fíbulas por peritos vários. O assunto é matéria de controvérsia acesa entre estes peritos, e as conclusões contraditórias entre si. Por isso, a nossa própria análise não está isenta de erro, e portanto, só poderá  valer como evidência relativa, e como conhecimento fornecido aos conterrâneos da existência e localização actual do seu património.
Fig.1-Fíbula de ponte encontrada na Cocolha(Angueira)

Seguindo a  trajectória da Fíbula de Ponte convenientemente descrita (J. Fortes) e cuja foto está inserida no texto anterior e no presente, levou-nos a uma visita efectuada ao Museu Abade de Baçal, local de exposição permanente. Ora a nota descritiva dos artefactos - fíbulas expostas refere "Fíbulas do Castro da Cocolha", ou seja plural, o que significa que existem duas (ou mais) e não uma fíbula. H, portanto, necessidade de esclarecer este pormenor. O panorama muda se existir na mesma fíbula , o metal ferro e o bronze. Além do mais não estão convenientemente referenciadas na vitrine de exposição (V.Fig.1).Este simples registo, permite dar uma aproximação significativa, em termos cronológicos e de tipologia. Em geral, dá-se como aceite que o Castro da Cocolha pertenceria ao povo dos Zoelas, mas este facto não contradiz a flutuante zona de influência e  intercâmbio cultural e comercial, característica de zonas limitrofes de fronteira.
Feito este pre-âmbulo, remetemos para os extensos escritos de Armando Coelho  F.S., e seus colaboradores sobre este tema e outros afins.
A fíbula é um artefacto, de uso pessoal e carácter decorativo, e em certa medida um carácter distintivo de quem o utiliza. Permite inferir dados  sobre a comunidade que os utilizou e/ou os produziu ou comercializou. A fíbula em causa é descrita como do tipo transmontano. Se foi produzida ou não no Castro da Cocolha depende da informação complementar que certamente ainda permanece escondida no Castro da Cocolha. Estranha-se o posicionamento do Igespar,admitindo omo facto consumado a degradação recente do seu perímetro, e não impondo regras claras para a sua manutenção, ao menos, no seu estado actual. Joga-se também o interesse das populações em termos económicos. Tal como os romanos aí interferiram, não foi à procura de produtos resultantes da comercialização da pastorícia, mas dos metais de mais valor acrescentado. Ora o interesse actual, aponta para a conservação do património histórico e cultural como um dos factores de desenvolvimento. Mais quatro pinheiros plantados nada resolve, e além do mais, os pinheiros actuais não têm sequer saída comercial. Sobre este aspecto, estámos conversados: Estado de conservação: Mau! Péssimo, diria, qualquer um!
J.Fortes (1904) emitiu ã opinião que as fibulas do tipo "transmontano, de largo travessão" dificilmente se poderiam classificar como anteriores ao periodo da romanização. Segundo este autor, estas fíbulas poderiam ser datadas dos Sec.I e II da nossa era. Porém, esta opinião não é partilhada por outros autores, e a data poderá varrer o período de IV Sec.(AC) até o Sec. II, (D.C.). A. Coelho parece apontar para o Sec.II (A.C.), 138 anos (A.C.) - associada de algum modo à campanha militar de Décimo Júnio Bruto na Península, ideia partilhada por J. Fortes num caso específico, e que poderia resultar de um processo de comercialização.  Esta fíbula foi também objecto de estudo de caracterização metálica (%Cobre (Cu), %-Chumbo(Pb); %Estanho (Sn)) de Salete da Ponte M. A nossa perspectiva não está voltada, nesta fase, para esta controvérsia, mas tão somente, indagar onde para o património histórico de Angueira. 
O eventual achado de moedas no local poderia contribuir para o esclarecimento desta e doutras questões, mas isso só se conseguirá através de escavações orientadas no local, sob responsabilidade directa de autoridades competentes na matéria.
Refere-se, de modo recorrente, ao achado de moedas no local ,até pelo Igespar. Tal como fizemos até aqui, vamos tentar localizar o seu paradeiro. Cremos, que serão mais as vozes que as nozes.

Conclusão: A fíbula referida permite confirmar que já nos distantes anos dos Sec. I e II (A.C.) existiria uma certa diferenciação da comunidade local, em termos de classe social, e já se estaria longe do primitivo igualitarismo de uma comunidade agro-pastoril. A certeza, pelos vestígios abundantes, de escórias de ferro levanta uma questão sobre o grau de desenvolvimento dessa mesma comunidade. A recorrente e sistemática  delapição do património aponta para os já longínquos anos do fim do Sec. XIX e início do Sec.XX (1900), onde a febre da procura do "minério" da Cocolha começou e de que há registo. Áparte o propalado achado (mas nunca confirmado, por via directa ou indirecta), do célebre objecto de ouro não consta que alguém tenha enriquecido por esta via, por oposição ao trabalho  árduo e constante, ao longo dos anos.
Este texto não tem carácter definito e absoluto, pelo que está aberto a todas as sugestões e críticas (via comentário).

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