domingo, 11 de setembro de 2011

Capela de São Miguel - Ecos longínquos

Capela de São Miguel_Arcanjo - I

A capela de São Miguel (Arcanjo)  faz parte do património cultural da povoação de Angueira, dificilmente separando lenda e realidade. A tradição oral nem sempre regista factos reais, mas permite perscrutar, no tempo, os ecos longínquos de acontecimentos ocorridos num passado remoto. O lugar em si - Prado de São Miguel - transporta este lugar a um patamar elevado, de religiosidade, de respeito e memória colectiva local, que roça o antigo conceito de santuário para os povos primitivos, muito anteriores ao surgimento das nações ou da fé cristã. Todos estes ingredientes andam aqui associados. A abordagem deste tema visa a separação, pelo menos parcial, entre lenda e realidade, no que a esta pequena mas valiosa capela concerne. É desconhecida a data exacta da sua fundação e, do que se conhece, a informação chega distorcida ou falseada. Refere-se frequentemente o ilustre bragançano Abade de Baçal, sem todavia se analisar a fonte de informação em que fundamentou a provável existência de um general sepultado na entrada desta  Capela. Vamos procurar contribuir para uma melhor compreensão deste assunto, começando por rever o livro Notas Monográficas de Vimioso de Frabcisco Manuel Alves (Abade de Baçal) e Adrião Martins Amado, E#d. Coimbra (1968). Em notas de rodapé, estão indicadas todas as fontes escritas, consultradas.Nele se faz alusão a um general (de nome desconhecido) que estaria sepultado no adro da citada Capela. Não é claro se o Abade de Baçal teria estado em Angueira ou não (mas deve constar dos seus apontamentos, por certo). Os dados constantes sobre Angueira foram recolhidos provavelmente por um seu colaborador - Padre/(Dr.)  Amado com ligações pessoais à família da Professora Primária da época, responsável pelo ensino e aprendizagem das primeiras letras pela maioria dos nossos conterrâneos (e quiçá do próprio que rabisca este texto).
Intrigado pelo facto do ilustre Abade deBaçal referir este general, com tal detalhe, leva à questão:" Como pode ter chegado a tal conclusão?". A resposta, que para um historiador seria trivial, reside num livro muito conhecido e antigo - " Corografia portugueza e descripçam topográfica do famoso reyno de Portugal,1706-1712, P. Luis Cardoso". Para evitar todo e qualquer tipo de deturpação da informação, transcreve-se as páginas onde Angueira é descrita e que permitem o contraste com os escritos do cunho pessoal do Abade de Baçal , a saber

Pag.1 -Descrição da Serra de Angueira/Angueira

Pag.2 - Descrição da história de Angueira .
É este texto que terá constituído a base da informação em que se apoiou o Abade de Baçal.
 Todavia, à luz de novos factos e do conhecimento actual, este texto é bastante limitado em termos científicos, nomeadamente orográficos, e em si também denota como a informação compilada para o livro foi conseguida (inquéritos). Como pano de fundo, a informação foi veiculado pelos homens mais cultos dos lugares (curas) e merecem confiança no que respeita a lendas e tradições antigas, embora sejam limitadas em termos de verdade última de acontecimentos passados. Por exemplo, a descrição da Serra de Angueira é bastante limitada em termos de precisão geográfica, mas indica claramente a sua fauna, especificando todos os animais de caça grossa.
 Sobre a história passada de Angueira tem como limite os"Mouros" para designar povos anteriores e associa a construção dos castros aos Mouros, que se sabe não ser verdade. Portanto, é necessário lêr criticamente todo o texto. Nele se refere, também que Angueira pertencia (à epoca) ao Bispado de Miranda do Douro. Mas este foi criado, politicamente, para combater a demasiada influência de Braga. A política não foi inventada hoje, sempre esteve presente em toda a actividade humana.
Este documento é, todavia, de uma grande importância, já que refere ecos longinguos de batalhas travadas anteriormente, regista os locais de combate, assinalados por grandes cruzes (excepto a de Cruz Branca referida). Lamentávelmente, não houve até agora um estudante/s de história que pegasse neste tema (e que seja do nosso conhecimento).
Vamos prosseguir a análise deste documento, em artigos que se seguirão. É necessário, para uma melhor compreensão desta Capela e de toda a sua envolvente: batalhas, povoado medieval,origem das procissões religiosas, e uma infinidade de questões mal resolvidas e explicadas.È este o fundamento para se reclamar a protecção do seu espaço natural por parte da C.M. de Vimioso.

Conclusão:  É indicada a fonte e a descrição original da Capela de São Miguel (Arcanjo). Manifestamente, a sua fundação está associada a acontecimentos guerreiros entre cristãos e mouros, que quiçá aponta para o período da Reconquista. Porém, existem factos inexplicados quanto à data da construção original (primitiva).A Capela actual não reflecte a natureza original, certamente modesta, como resultado da invasão bárbara do betão e do cimento. A sua história declinou por incúria dos homens, da premente necessidade de novos campos de cultura (justificável) e da avidez intolerante da possesão privada, não respeitando sequer as memórias colectivas dos seus mais proeminentes membros. A C.M. de Vimioso dormiu, deixando a gestão de um valioso património em roda livre. Assim estámos. 
Aplaude-se vivamente, porém, a iniciativa actual da reactivação das festividades, complementadas com as medidas necessárias e imperativas de reactivação da Capela ao seu antigo esplendor: devolução/compra de terrenos contíguos à Capela e sujeitos a toda a devassa, bem como a indagação do destino de achados recentes.
Dado que este texto já é demasiado longo (os bit e os byte também contam),  deixaremos para a próxima oportunidade a nossa interpretação do enquadramento político-militar e religioso em que teria sido construída. Como nota final, note-se que há  sob a designação:"ANG" algumas descrições de Angueira.

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