sexta-feira, 9 de novembro de 2018


Grande Guerra Mundial : 1914-1918

Armistício de 11 de Novembro de 1918

Mobilizados de ANGUEIRA para a Grande Guerra 


No próximo dia 11 de Novembro de 2018, pelas 11 horas, celebrar-se-à o Centenário do Armistício que calou as armas da Primeira Guerra Mundial. As comemorações terão um significado diferente para as várias nações do Ocidente e de outros continentes, também. Com a assinatura do tratado de Versalhes, o mundo mudou as fronteiras conhecidas até ao início  da Grande Guerra e o mapa-mundo foi redesenhado. Caíram impérios, nações, alianças militares e da hecatombe surgiram novas nações, novas fronteiras e ressentimentos complexos. O clausulado do tratado de Versalhes poria em marcha, os mecanismos que conduziram à 2ª. Guerra Mundial.

Actualmente, a França - com a presença do actual Presidente Macron recorda a catástrofe, espalhada pelos vários campos de batalha. A Inglaterra nunca esquecerá os seus Tommies (rapazes)e as papoilas (Poppies) farão parte das  lapelas de todos os Ingleses no dia da Lembrança - (Remembrance Day) dia de agradecimento aos seus heróis. Mesmo na situação complexa do Brexit, a chama não se apagará. Na Alemanha, a comemoração é menos evocada, por lembrar os pesadelos da fome no fim da guerra, o desvio autoritário inter-guerras e a lembrança mais pronunciada e fantasmagórica da Segunda Guerra Mundial, levada a cabo por um soldado desconhecido (Hitler) da Primeira Guerra, que combateu nas proximidades das tropas portuguesas do Corpo Expedicionário Português (CEP).

Para quem visitou os campos de batalha da Grande Guerra, a emoção ficará para sempre gravada. Portugal, enquanto país menor, contribuiu com a sua quota-parte do esforço de guerra  ao lado dos Aliados (França, Inglaterra, Rússia) a partir de Março de 1916, data de declaração de Guerra por parte da Alemanha e, de modo informal em guerra não declarada nas Colónias Africanas [Angola e Moçambique] desde o início da Guerra de 1914-1918.

O presente texto visa recordar o testemunho factual, valoroso e destemido, destes combatentes.

 A 1ª. Geração do pós-guerra ainda tem presente na memória,  as  figuras destes soldados, mas a 2ª. Geração ou os ignora já completamente ou minimiza o seu contributo para a evolução da história europeia e portuguesa. Todos os conterrâneos lhes devem um bem haja, de respeito e gratidão. Directa, ou indirectamente, todas as histórias pessoais de vida se encontram vinculadas aos sacrifícios desmedidos que lhes foram exigidos, em nome do combate ao Alemão  e à defesa da Pátria. A Pátria não cuidou deles como devido. Regressados à sua origem, continuaram a sua vida de pobreza, sem horizontes. A emigração, interna e externa, faria dos seus descendentes a única saída de realização pessoal, sob o astro asfixiante da Ditadura. 

Os soldados de Angueira mobilizados para a Flandres Francesa foram recrutados pelos Regimentos de Infantaria 10 e 30 de Bragança e foram os abaixo indicados:

Tab. 1 - Lista de soldados da Grande Guerra , naturais da freguesia de Angueira.


Embarque
Desembarque
OBS.
Adriano A. dos Santos
Tiu Adriano
22/04/1917
04/02/1919
Munster II
António A. Fernandes
?
09/09/1917
09/09/1919
José M. Martins
Tiu Cristo
20/04/1917
15/04/1919
Luís R.
Tiu Bidal
25/01/1917
03/06/1919
Manuel B. Lopes
Tiu C Regino?
22/04/1917
28/05/1919
Manuel J.Galhardo
Tiu Soldado
22/04/1917
28/05/1919
Manuel M.Bernardo
Tiu Cadato
22/04/1917
17/06/1919
Sebastião L. Esteves
Tiu Sabastião
22/04/1917
25/07/1918
José M.João
Tiu Chetas
16/05/1917
31/03/1919

Todos os mobilizados de Angueira regressaram. Igual sorte não tiveram outros camaradas da 2ª Companhia do RI 10 de Bragança, certamente amigos e conhecidos das freguesias próximas.  O Regimento de Infantaria 10 foi severamente fustigado na operação alemã Georgette em 9 de Abril de 1918. A ofensiva alemã  foi inicialmente bem sucedida. A derrota militar  das tropas portuguesas de La Lys, ocasionou um número muito elevado de prisioneiros, divergindo as narrativas inglesa e portuguesa quanto ao ocorrido. Alguns dos nossos conterrâneos estavam na linha de embate frontal do 6º. Exército do Gen. von Quast. Antes desta operação de grande escala, já as trincheiras portuguesas eram alvo violento da guerra típica de trincheiras e no desespero alemão de uma vitória rápida, concentraram a operação Georgette na área de ocupação da 2ª. Div. Portuguesa.

O soldado Sebastião L. Esteves foi gaseado a 23 de Março de 1918, encontrando-se hospitalizado quando ocorreu a batalha do 9 de Abril de 1918.

O Soldado  Adriano A. dos Santos foi o único prisioneiro do grupo dos nove soldados mobilizados, sendo conduzido até ao campo de prisioneiros de Munster II.
                                          
Alguns soldados de Angueira continuaram o combate, com o que restava do CEP, em unidades entretanto formadas. Esta batalha é conhecida em  França pela batalha de Armentiéres e pelos Ingleses como uma das batalhas do rio Lys, inserida na 4ª  Batalha de Ypres. Sem detalhe de pormenores, junta-se o mapa dos acontecimentos militares da Flandres e uma foto das trincheiras portuguesas, onde a resiliência do soldado tinha que ser levada ao limite.



Fig. 1 - Posicionamento do RI 10 (Bragança)  a 9 de Abril de 1918
 [Batalha de La Lys] - Zona assinalada a vermelho 




Fig.2. - Soldados portugueses com foguetes S.O.S.

Na época, A. C. Doyle defendeu com toda a clareza e neutralidade, que com tamanha virulência da ofensiva alemã, nas condições em que ocorreu de forte nevoeiro, desgaste das tropas portuguesas, e grande superioridade numérica das divisões alemãs, qualquer que fosse o  soldado no mundo, o desfecho não poderia ter sido diferente. Os ingleses venderam a ideia da fraca resistência das tropas portuguesas, tentando escamotear  o comportamento de alguma das suas tropas, elas também exaustas pelos combates na 2ª. batalha do Somme. Há vários relatos sobre  ataques pela retaguarda das tropas portuguesas, tendo-se dado a penetração dos alemães por algumas zonas de defesa inglesas, tal como há certas indicações de fuga da linha da frente de soldados portugueses. Política, jogando com a pele dos queimados. Não há razão de culpa, os soldados portugueses resistiram no seu limite, tal como Doyle acentuou nos seus escritos e a própria elite militar portuguesa sempre sustentou.

O sacrifício das tropas portuguesas não foi, todavia, em vão. Esta batalha na Flandres  de 9 até 13  de Abril  acabou por ser o início da derrocada dos exércitos alemães. Uma vez detido o avanço alemão,  no período de 13 a 28 de Abril de 1918, surgiu o contra-ataque  vitorioso das tropas aliadas que viria a culminar com o Armistício de 11 de Novembro de 1918 [Clique aqui: Armisticio 1918].

A guerra só viria a terminar com a imposição do tratado de Versalhes, meses mais tarde. Para os soldados a guerra só terminaria no local de partida, que como se indica na tabela 1, ocorreu em diferentes datas, de acordo com o percurso individual de cada soldado.






1 comentário:

  1. Convida-se os senhores arquitectos(as),naturais ou com vínculos a Angueira, a deixarem aqui o seu contacto.Obrigado

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