terça-feira, 20 de setembro de 2022

 O MOINHO de Dom TELLO FERNANDIS e seu PRADO

Os moinhos de Angueira revelam um passado fascinante com muitas conexões históricas, com referências escritas das mais antigas de Portugal. Património cultural que imperativamente tem de ser preservado. Os moinhos fizeram parte do quotidiano de Angueira, desde tempos antigos até os nossos dias. Não se vai descrever a historiografia dos moinhos desde os primitivos sistemas para a transformação do grão de cereal em farinha (sistemas de granito - Cocolha), ou similar ainda visíveis em África


Fig.1- Senhora da Cocolha, moendo os seus grãos.

até às várias variantes de moinhos espalhados pelo mundo. Os moinhos de Angueira, nomeadamente o de Dom Tello Fernandis, são referenciados em documentos dos monges de Cister. Este Dom Tello recebeu a doação de grande parte do território de Angueira de Dom Sancho I, por serviços distintos prestados ao rei (Ignora-se, quais.)


1 2 5 7 — O abade Guterres concede foro aos vassalos da sua vila (granja) de Angueira, regulando, mediante as condições seguintes a relação entre eles [Vêr s.f.f. post deste blog de 29 de Dezembro de 2010].

" quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Angueira - Foro - Sec. XIII

Carta foral de Angueira - Séc. XIII (1257)
Enquadramento histórico-político da região geográfica "
ou através do sítio: "64 (csic.es) "

14.- De geris duas dent, unam ad secandum et alteram ad panem excutiendum. De carreris dicimus quia quocienscumque necesse fuerit faciant. De molendinis dicimus quod nullus ibi faciant molendinum, exceptis fratribus de Morerola.

Tradução parcial:" Acerca dos moinhos afirmámos que não é permitido moer, execepto aos frades de Moreirola"

15.- De duobus pelagis de Terroso dicimus quod nullus ibi piscari nec ibi scindere ligna vel arare; similiter dicimus de illis duobus pelagis qui sunt super domun cum sua facera ex utraque parte fluminis, quod nullus sit ausus piscari ibi nec ligna scindere vel arare. Similiter dicimus quod a prato quod fuit de dompno Tello usque ad terminum de Zarapicos nullus ingrediatur causa scindendi ligna aut arandi. Defensa de Ciragrillis que fuit de dompnus Tello sit de fratribus de Morerola. Similiter de defensa que est contra Alcanizas dicimus quod sit de Concilio.

Tradução parcial, livre " Na zona de Terroso é proibido pescar, cortar lenha ou lavrar. O mesmo se aplica acima da casa do moinho com a sua faceira..." O mesmo se aplica ao prado de Dom Tello onde é proibido cortar lenha ou lavrar. 

Nada mais claro que a afirmação de que o prado (com o actual nome, onde a capela de São Miguel se encontra implantada) era pertença de Dom Tello Fernandiz. Qualquer ambiguidade fica desfeita. Diz-se no texto, que confina com o termo de Zarapicos (Serapicos, nome actual).

Há, pois, forte evidência de que a sepultura encontrada em São Miguel seja a do combatente Dom TELLO FERNANDIS, cuja doação de parte de Angueira, nomeadamente o Prado, foi registada em acto solene perante os maiores Bispos do Reino e homens probos, por Dom SANCHO I, segundo rei de Portugal e filho de Dom Afonso Henriques. {Ver carta de doação neste blog }

Como não há bela sem senão, a festa de São Miguel era o dia de pagamento de impostos ao Mosteiro! Na festança esperada (24 de Setembro de 2022), sugere-se a aplicação duma taxa (5 euro) para reconstrução dum moinho (dos existentes, em escolha futura). 

O/A responsável pela área da Cultura da Câmara Municipal tem obrigação de salvar o património dos moinhos históricos de Angueira e lutar contra a ideia peregrina da construção dum qualquer palácio de chifres a juntar ao palácio dos burros mirandeses. Tem toda a legislação existente ao seu dispor e a seu favor. Aliás a C.M.V. aplica-a quando lhe convém.  Voilá ! Deixa-se aqui uma foto dos mesmos para não restar qualquer dúvida:

Fig.2 Moinhos históricos de Angueira. (~1257 e anterior)

(Dom Tello (esquerda,saída de água parabólica,de xisto)
As saídas da água (lado direito, sem grande margem para erro, são da responsabilidade do mosteiro de Moreruela. O poder económico contrasta!

Não há povo algum europeu que permita tal degradação (nem qualquer Câmara Municipal que se preze neste país), havendo hoje, em dia, grandes movimentos e associações para a defesa deste tipo de arqueologia industrial. É provável que o príncipio básico do funcionamento de todos os moinhos de Angueira assente no tipo de construção tradicional do modelo cisterciense de rodízio, que transforma a energia das águas em força motriz que faz girar a roda moleira superior.

Estabelece-se, assim, o monopólio do moinho, pelo que só poderá construí-lo o mosteiro de Moreruela (Moreirola).

A Assembleia Municipal da C.M V. deliberou sobre uma casa em ruínas em Angueira (Casa do Snr. Padre Lino). Aplique-se a lei ao moinho da Senhora, pois é dos únicos existentes aquele que permitirá reconstruir o modelo dos demais. A situação é tal que se exige medidas urgentes para restaurar o telhado de imediato. [Nota: Nunca se afirmaria tal propósito se, tanto quanto transparece, o(s) proprietário(s) não tivessem meios financeiros mais que suficientes para repor o telhado, com a velha telha romana, de meia cana]. Angueira tem sobrevivido ao longo dos tempos com a visita dos povos vizinhos, tal como os ecos do célebre moinho dos Lucas indica. A família dos moleiros era, genericamente, rica naqueles tempos. Cobrava maquias. Com a evolução de novas técnicas de moagem, a sua influência na sociedade rural foi diminuindo até ao estado actual. A sobrevivência do moinho dos Lucas [supostamente tido como o moinho do Mosteiro de Moreruela] certamente se deve à ausência de cheias tais que provocassem a sua destruição. Os peritos também têm que validar se se trata das paredes originais (tudo o indica) ou se sofreu alterações profundas.


Fig.3 - Moinho da Senhora

A este moinho prendem-me gratas recordações, como acompanhante da minha avó, velha amiga da família que então a habitava. Para bom observador, uma data está gravada na pedra de xisto. Certamente é de construção mais recente, já longe do período de monopólio dos monges de Cister (nos distantes anos de 1257).

"... em Angueira fala-se também da defesa de Ciragrillis (provávelmente o terreno do antigo castro) que fica reservada para os monges tal como o prado de Dom Tello, e de outra defesa que se deixa ao concelho..."
Esquema dos moinhos de rodízio:












Fig.4 -Esquema do moinho de rodízio

Fonte:" Tese: Os sistemas de moagem do Mundo Romano: o sul do Conventus Bracaraugustanus | T.J. Ferreira"





Feita esta breve introdução aos moinhos, voltar -se -à ao assunto numa base mais fundamentada para sustentação da tese da recuperação dos moinhos, em tempo que poderá ser longo, mas possível e realizável. Renova-se o convite aos arquitectos(as) de Angueira para aderir, se assim o desejarem, para esta iniciativa, que necessariamente terá que conjugar a antiguidade e rusticidade das construções com o modernismo de soluções a discutir.

Publicado por VE/VXYZ

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