terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Estelas Romanas de Angueira

As Estelas Romanas de Angueira - Encontros e desencontros
Património cultural
  • Achados arqueológicos
  • Localização e paradeiro actual
Diversas observações levam a supor que um número não desprezável de achados arqueológicos têm sido encontradas em Angueira. Pôe-se a questão de saber, com veracidade, qual o número provável de achados e, se possível, descrever a trajectória dos mesmos e referenciar a sua localização actual. Uma breve indagação sobre  Hispânia Epigráfica permitiu ter acesso à descrição e localização de algumas estelas romanas. As estelas identificadas, com a respectiva informação, por esta via (ou similar) foram as seguintes:
  1. Angueira (c. de Vimioso, Bragança, P.) A.M.Mourinho, Brigantia, 7 - 1,2, 1987, pg. 116, nr.50[12].
  2. Angueira (c. de Vimioso, Bragança, P.) B. Afonso, Brigantia, nr.10, 1990, pg. 218[13]
  3. Angueira (c. de Vimioso, Bragança, P.) B. Afonso,1996, pg.177-178. Estela anepigrafa de cabeceira semi-circular, rosácea de seis raios dextrógiros, proveniente da Cocolha [1177].
  4. Angueira (c. de Vimioso, Bragança, P.) B. Afonso,1996-A.Redentor. Estela bisoma de cabeceira  proveniente da capela de São Miguel e localizada junto à JF [866]. Tentativa de leitura :"D(is)M(anibus)/Corneliae/Pintonis/A(n(norum)XV".
  5. Angueira (c. de Vimioso, Bragança, P.) B. Afonso,1996-Inscrição: MO. Local actual: Jardim JF
  6. Angueira (c. de Vimioso, Bragança, P.) B. Afonso,1996- Inscrição: OOGI.Local actual:Jardim JF
  7. Angueira (c. de Vimioso, Bragança, P.) - Museu de Miranda do Douro.Proveniência Cocolha.
  8. Angueira (c. de Vimioso, Bragança, P.) - Museu de Miranda do Douro.Proveniência Cocolha.[Nota: Estas duas estelas foram entregues a A.Reis que, por sua vez, as entregou ao Museu de Miranda do Douro (relato directo)].
  9. Angueira (c. de Vimioso, Bragança). Proveniência Cocolha (1903). Local actual: Lisboa. Esta estela é de uma grande importância e significado. Foi enviada a J.L.Vasconcelos pelo Reitor da Sé de Miranda para armazenamento e conservação. Para além da decifração da inscrição JV faz um enquadramento histórico dos nomes nela envolvidos. Aponta a Cocolha como um sítio de origem celta. Aliás, as referências 5 e 6 com as designações assinaladas são apontadas também por outros peritos (Abade de Baçal). Tratar-se-ia destas mesmas ou de outras com iguais símbolos?
  10. Fíbula, proveniente da Cocolha e exposta no Musel Abade de Baçal (Bragança).
  11. Outros itens a acrescentar.

  • Interpretação e Comparação com a Fig.11 (integral, à esquerda)
  • Estrutura: suásticas+ campos epigraficos + motivos zoomórficos
  • Angueira(Fig.central):Suásticas+campos epigráficos+Figura zoomórfica +Representação figurativa (pessoa)+3x Espadas
Fernando Coimbra (Lápides funerárias romanas com suástica em Portugal e Galiza, Anuário Brigantino, 2007, nr.30) analisa a iconografia e os motivos decorativos destes monumentos. Sugere que a epigrafia tem representado a quota de informação mais relevante. De facto, a região do Nordeste Transmontano actual foi estudado inicialmente por L.Tranoy e P. Le Roux. L.Tranoy classificou a maioria das encontradas na região de Miranda do Douro como do tipo"Picote". Baseia a sua classificação na existência de peanha, meia-esfera e por vezes de representações zoomórficas (porco e veado, em geral).
A descoberta recente da lápide referida como nr.4 (acima), é do ponto de vista iconográfico de importância relevante, pois (apesar da sua degradação física) são ainda detectáveis todos estes elementos representativos( suástica, peanha, epigrafia) e do nosso ponto de vista apresenta fortes semelhanças com a referida na Fig.11-subtipo III-B por F. Coimbra. Partilhámos a ideia de que o centro produtor deste tipo não estaria localizada necessáriamente em Picote.
Como o material usado na sua produção é diversificado: granito (suástica de turbina), pedra de  xisto de grandes dimensões e de proveniência local e ainda mármore certamente proveniente  das minas de Santo Adrião fazem de Angueira um centro produtor autónomo. Acresce ainda o facto da análise iconográfica dos motivos picotados na peça de mármore revelarem motivos únicos que só podem ter tido origem local. 
  • A análise do motivo zoomórfico presente (corça) foi já feita anteriormente. A comparação só perde pela clara degradação da Fig.Central (Angueira) face à Fig.11 indicada por F. Coimbra. Deixa este autor uma porta aberta, na medida em que diz que a estela da Fig.11 está no Museu de Arqueologia de Lisboa, acrescentando que provém do planalto mirandês, mas de local desconhecido.
Conclusão: A estela de Angueira (nr.4) apresenta os mesmos motivos para a classificação do tipo "Picote". Porém não se limita aos padrão tido como tal, excedendo-o e lançando uma eventual janela de oportunidade para esclarecer a proveniência do local para a Fig.11, tido por "origem desconhecida" do planalto mirandês da célebre lápide dupla de  AMA e VALERIA.

Sem comentários:

Enviar um comentário