sábado, 14 de agosto de 2021


 Relaxação de verão!

Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa Pessoa, F. Mensagem. Poema X Mar Português
Relaxação temporária  sim, mas não facilitismo ao vírus! Nada mais agradável que saborear um café, em segurança, ou apreciando um bom copo de vinho do Porto, ouvindo música tradicional dos muitos povos que habitam a Terra. Deixam-se aqui algumas referências, que por vezes andam associadas a conotações políticas e que podem assumir várias variantes e interpretações. 
Era eu menino e moço, dos tempos em que os verdes anos não exigiam esforços críticos. À sombra da Capela do Santo Cristo, vi pela primeira vez em texto a palavra SPUTNIK. Inúmeras vezes vi satélites varrendo o céu estrelado. Ignorava as batalhas da guerra fria, Ainda com laivos de pureza infantil ,espantava-me com a velocidade estonteante do SPUNIK (Outubro de 1957) e do nome raro da cadela Laika enviada no Sptunik 2, com viagem sem retorno. Uma cadela TROIKA ,companheira de muitas viagens, passeou por todo o território de Angueira. A Troika do infortúnio português só muito mais tarde revelaria o seu carácter punitivo sobre o povo português. No meio desta tormenta epidémica, deixa-se música tranquilizante, património de vários povos e que fazem parte da harmonia musical universal.
1. Canção russa : TROIKA (Trio de cavalos) - BALALAIKA (Instrumento musical), com ilustração de pinturas
    Carregue em (e seguintes)  : TROIKA - BALALAICA
[NOTA: Neste texto recorreu-se ao browser Bing para acesso às ligações referenciadas. Se lhe for solicitado o reencaminhamento pelo Google, responda afirmativo. O mundo digital está a transformar-se num colossal meio de analfabetismo, sobretudo em zonas rurais. È normal que surjam anúncios]
2. Canção italiana da resistência e da revolta das mulheres campesinas da cultura nos campos de arroz do rio Pó. Qual ceifeiras alentejanas.
    Canção italiana Bella Ciao, Bella Ciao : CIAO,AMORE CIAO
3. Canção portuguesa (Zeca.Afonso) : CANÇÃO DO DESTERRO
    Canção portuguesa (Adriano C.de Oliveira): CANÇÂO DO EMIGRANTE
4. Leitura do poema de Fernando Pessoa por turistas: TURISMO
5. Os soldados esquecidos do CEP, que garantiram temporariamente as colónias e foram vítimas da ditadura:
     Fado português (Fernando Farinha):  SOLDADO das TRINCHEIRAS
6. Aos filhos e netos destes bravos soldados, a ditadura deu-lhes o barco Vera Cruz e similares, para jogarem o seu destino em roleta russa. Privou-os da sua liberdade, que a emigração ganhou por direito próprio e sacrifícios muitos. O carácter latino destas gentes, de vivência melancólica como a pensativa Maria, entre amigas, despertou pelas décadas de 60 e 70, com o degelo provocado por ondas de canções latinas. Olhitos melancólicos de Maria, transformados pelo olho matreiro de italiano e olhares faiscantes e cruzados da juventude. Tempos de festa.
    L´ Ítaliano vero (Toto Cutugno) : L´ITALIANO VERO
7. Tempos de inocência e de explosão das melhores canções latinas. Destinos cruzados e programas de partilhas de vida futuras. Momentos de Cumparsita e tangos ardentes. A zona de fronteira, apesar de tudo, permitia sair um pouco do sufoco da falta de liberdade.
    Latin Songs :  MELHORES CANÇÕES LATINAS
    Canções latinas :Música de dança_latina
Tempos de História de un amor (French Latino) ou na versão de Guadalupe Pineda, História de un amor (GP)besame mucho, e  "la Cumparsita" para fim de festa . Devaneios de juventude que a realidade não deixará persistir na memória durante muito tempo.

8. A influência espanhola libertava da pobre melancolia reinante, e não havia viva alma que não vibrasse com a Espana Cañi [ Carregue aqui Espanha Cani], ou na versão humorística alemã:  [André Rieu- E.Cani] .
9. Desta infindável lista, deixa-se uma mensagem ao bárbaro Ventura, com a canção de Enrico Macias - da bela Zingarella (Gina Lollobrigida),em contexto medieval . 
    Os tempos despreocupados da juventude que da canção SALUD, DINERO e AMOR colhia os doces frutos já mudaram e a realidade da vida já não permitirá activar os pés agéis d´ outrora e captar os desejos ardentes espalhados pelos bailes. De todas estas palavras cada um registará a sua história. Apenas a saúde será do foro pessoal. Dinero e amor, são termos mentirosos e ambíguos. A juventude actual, também e ainda adere a esta canção.

10. A palavra do poeta está toda escrita na casa da família Lico, em Angueira, hoje em dia, num estado de ruína e abandono. Os membros desta família, supostamente originária de Itália, estão espalhados por todo o mundo, com alguns membros próximos (de um seu irmão em Vimioso) sediados no Brasil, na área da Construção Civil e Gestão de Edíficios, de larga escala.  Se os ecos chegarem à sua empresa, reconhecerá que a reconstrução da casa do tio Lico não passa de uma pequena ninharia.

"Não tem necessariamente que ser assim e deixa-se aqui um repto e desafio aos familiares da família Lico para o novo RENASCIMENTO da aldeia de Angueira " .  


Foto 1- Casa da família de Abílio A . Lico

Constituiria uma excelente Casa do Emigrante, respeitando-se a sua implantação, as vetustas paredes de xisto, os pisos em socalco e tudo o mais. De notar, que Angueira já possui os seus arquitetos, de nova geração, e à dependência camarária pode dizer-se basta de tanto abandono. Falta organização, método e mãos à obra.

Na margem esquerda da ribeira (pontões) há uma courela pertencente a esta casa, como se pode testemunhar.

 A família Lico deve orgulhar-se do seu passado e que o viajante por estas paragens desconhece. Desta habitação saíram para o Brasil os três descendentes de : Abílio Acácio Alves Lico e de Maria Ludovina Fernandes. 

Esta habitação funcionou como complemento do registo civil, durante a transição da monarquia para a República (1910), tendo alguns concidadãos realizado aí os seus assentos de Registo Civil. 

João A. Lico, um dos filhos, de 22 anos emigrou para o Brasil, com data de passaporte passado  em  11-07-1913. Fez fortuna como grande fazendeiro, bem como  o seu irmão António Alves Lico, na zona de passagem das tropas (gado) para São Paulo, contribuindo para o progresso da região. Os seus nomes figuram nas ruas da actual cidade de  ITAPEVA. Mais uma vez , o capital humano serviu para desenvolver outros países.

Um seu familiar, António Lico, militar, posteriormente demitido do Exército (cujo parentesco, não é possível estabelecer, de imediato, com Abílio A. A. Lico) foi um lutador antifascista, oferecendo os seus préstimos dirigidos ao ex-Presidente Bernardino Machado, por duas vezes deposto do cargo de Presidente da República. A última por Sidónio Pais. Casou com uma inglesa no Oriente e  daí geriu uma empresa de exportação de bens e serviços da produtos chineses. Um dos familiares, possuía uma das maiores casas agrícolas                  {Casa Lico-Alpiarça}, ponto de encontro das elites culturais de Lisboa, à época. Os seus descendentes gravitam ainda em torno de negócios no imobiliário.

Para além do pacato e limitado mundo de Angueira, há outros mundos que se guerreiam e fazem das suas gentes meros esteios do poder. O horizonte de Angueira é limitado e para lá das montanhas distantes de Espanha e dos montes do Mogadouro outros mundos podem ser revelados. A emigração cresceu por necessidade e não por gosto ou atração pelo desconhecido. Os fracos recursos deste território forçaram à emigração. Os horizontes físicos observados são os mesmos dos primitivos habitantes do Castro (abandonado e destruído) da Cocolha.

 Muitos dos emigrantes/imigrantes se reconhecerão neste traçado de imagens descritivas , onde, quiçá, a sua vida se desgastou. É tempo de reclamar dos poderes políticos em períodos eleiçoeiros que conduzem sempre a uma mão cheia de nada. Todos os dinheiritos europeus se consomem na vila e em palácios para burros. As aldeias recebem umas migalhas, e tem sido assim ano após ano. Factos são factos e pretender demonstrar o contrário, é adoçante de político.

 É tempo de pensar num renascimento, passo a passo, da aldeia de Angueira. Por que não transformá-la numa aldeia, cativante e florida? O tempo da canção (Angela Aguilar), interpretada por Burcin  LHORONA (clique aqui) já passou, mas a beleza das flores é perpétua.

Há janelas e pequenos cantos para embelezar [com respeito intransigente do espaço público]. Os homens partem, o património fica.

Valerá a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Divirta-se e até à próxima!!!





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